Tu começou no teatro, né? Quando foi isso?
Me
bacharelei em direção teatral pela UFRGS
em 1975, mas venho mais atuando. Comecei lá pelo
Grêmio Dramático Açores que era do
Teatro de Arena. Era um grupo de resistência à
censura e à ditadura. E depois trabalhei com a
maioria dos diretores de Porto Alegre. Ganhei também
o Prêmio Açorianos de melhor ator com o espetáculo
King Kong Palace.
Como
é o teu personagem, o Antunes?
O
Antunes é o pai da Sílvia (atriz Leandra
Leal). O Antunes provavelmente se separou da mãe
da Sílvia bem cedo e foi quem criou a Sílvia,
praticamente. Existe uma dúvida se a Sílvia
é realmente filha do Antunes e ele também
tem essa dúvida. Tanto que ele não a trata
exatamente como filha. Ele tem arroubos de velho tarado,
de um cara que, até mesmo, espia a própria
filha. E o Antunes, como profissão, é guarda
do estacionamento de um banco.
E
psicologicamente, como ele é?
O
Antunes é um mau caráter. E também
um sujeito frustrado, porque provavelmente ele foi muito
apaixonado pela mãe da Sílvia e ela o abandonou
em função até do próprio caráter
dele. O que ele não reconhece. Ele continua achando
que foi traído, abandonado e tudo o mais. E isso
piorou o que já era ruim do caráter dele.
Por outro lado ele é um sujeito capaz de gostar,
capaz de ter vivido uma grande paixão pela mãe
da Sílvia. É aquela história que
eu sempre digo, não existe um sujeito completamente
ruim ou completamente bom. Então esse caráter
dele é em função do tipo de vida
que ele vive e até da sua ignorância como
sujeito na vida.
Ele
chega a ter algum ressentimento com a Sílvia?
Ele
trata essa filha com a permanente dúvida: se ela
realmente é ou não sua filha. Por isso ele
não a respeita como ser humano, muito menos como
filha. E valoriza pouco ela, tanto que ele chega a dizer
para o André: "Olha, rapaz. Tu quer casar
com a Sílvia, tudo bem. Mas eu com o teu dinheiro
e com a tua idade, arrumava coisa muito melhor",
e isso a respeito da própria filha.
Fora
o filme, o que andas fazendo?
O
espetáculo Ano Novo Vida Nova, com texto da Vera
Karan e direção do Décio Antunes.
A peça já saiu de cartaz em Porto Alegre,
mas a idéia é viajar com o espetáculo.
Entrevista:
Giuseppe Zani - (Web Reporter - Studiorama)