ALÉM DAS REDES DE COLABORAÇÃO:
Diversidade Cultural e as Tecnologias do Poder
Ciclo de palestras
desenvolvido em parceria com a ASL - Associação Software Livre
Projeto contemplado no edital "Cultura e Pensamento" 2007 do MinC
a ser realizado em outubro em Porto Alegre/RS; e novembro em Natal/RNmais informações no blog do evento.
APRESENTAÇÃO
Reunindo a qualidade artística e a reflexão crítica dos profissionais da Casa de Cinema de Porto Alegre à experiência da Associação Software Livre, entidade esta responsável pela organização de um dos maiores encontros de cultura hacker do Brasil – o Fórum Internacional de Software Livre, propomos um exercício de "decodificação" das tendências culturais contemporâneas, em suas expressões artísticas, tecnocientíficas e político-ideológicas, buscando desvendar as intrincadas tramas e seus algoritmos moleculares e globais, hoje condutores da biopolítica e das macro-estruturas do poder.
A proposta é trabalhar a contradição entre as possibilidades de criação e disseminação culturais inerentes às redes informacionais e jamais construídas na história da humanidade e as tentativas de manter a inventividade e a interatividade sob o controle dos velhos modelos de negócios construídos no capitalismo industrial. O projeto visa jogar luz sobre estas batalhas biopolíticas. Queremos decifrar as disputas sóciotécnicas em torno da definição de códigos, padrões, protocolos, aparentemente inocentes, neutros, simplesmente pragmáticos(racionais).
Os dois ciclos ocorrerão nos extremos geográficos do Brasil, demonstrando o poder desterritorializante e distribuído da cultura digital e das redes informacionais. O primeiro será no Rio Grande do Sul e o segundo será no Rio Grande do Norte. O Brasil dentro da rede é o país diverso, enredado, mais amplo do que os seus grandes centros. Para deixar isto efetivamente claro articularemos ativsitas, pesquisadores e intelectuais de todo o país, militantes latino-americanos e esperamos ter mais de 20 mil acessos simultâneos na nossa webTV, pois é o público cativo que (temos) acompanha as transmissões do Fórum Internacional de Software Livre. Nossa estratégia é de mobilização múltipla nas diversas comunidades virtuais, de ativistas ciberculturais, sócio-políticos, tecnoartísticos e nos sites de relacionamento.
ABORDAGEM DO TEMA
Nosso ciclo faz a recombinação e a correlação entre coisas aparentemente distintas e distantes, mas incrivelmente intrínsecas. Mostramos que a razão instrumental não consegue ficar impune diante do intercâmbio comunicativo entre os nós das redes. Por isso, nosso ciclo quer efetivamente ir além das redes de colaboração e mostrar as possibilidades, a potencialidade e os riscos que as tecnologias do poder trazem para a diversidade cultural e para a emancipação das subjetividades. Por isso, nosso ciclo parte de perguntas:
1. Como as redes reconfiguram a sociedade, a educação e a cultura?
2. O que o software tem a ver com os transgênicos?
3. O que códigos tem a ver com música, filmes, jogos e realidades alternativas?
4. O que as telecomunicações e a tv digital tem a ver com o comum?
5. O que a educação tem a ver com a autonomia política e tecnológica?
6. O que o anonimato na rede tem a ver com a democracia e com a biopolítica?
7. O que a tecno-arte e a cibercultura tem a ver com a estética da multidão?
8. O que a convergência digital e a TV pública tem a ver com a diversidade cultural?
AS MESAS
Assim teremos oito mesas, quatro em Porto Alegre e outras quatro em Natal, que problematizarão essas questões dos seguinte modo:
Mesa 1.1 (Porto Alegre)
"POLITIZANDO AS TECNOLOGIAS:
COMO AS REDES RECONFIGURAM A SOCIEDADE,A EDUCAÇÃO E A CULTURA?"
A mesa procura debater as reconfigurações e recombinações tecnológicas estruturadas pela sociedade informacional. Decifrar nos códigos, nas arquiteturas de rede, nos protocolos e padrões tecnológicos as determinações políticas e as suas implicações sócio-culturais. Na sociedade potencialmente hiper-copnectada a cultura vive as possibilidades da colaboração, do ativismo em torno do compartilhamento do conhecimento e, simultaneamente, os conflitos nascidos das tentativas de controle e manutenção da velha indústria cultural. A necessária expansão das redes coloca em cheque os instituídos modelos de reprodução dos saberes e a própria Educação. O debate buscará apontar a ambivalência cultural da nosso cotidiano nessa mudança de era.
Mesa 1.2 (Porto Alegre)
"CULTURA E NATUREZA:
O QUE O SOFTWARE TEM A VER COM OS TRANSGÊNICOS?"
Os códigos predominam na sociedade em rede, expressão máxima da era informacional. Enquanto prolifera no ciberespaço uma cultura da remixagem, as grandes companhias do mundo industrial lutam pelo controle dos códigos. O avanço das práticas recombinantes na rede é contraposto com as medidas de enrijecimento e controle da propriedade das idéias. A mesa articula os elementos que compõem um dos mais importantes embates da era informacional, entre os defensores da liberdade do conhecimento e os agentes dos instituídos modelos totalitários-concentradores de riqueza e poder. O debate passará pelo terreno do controle dos códigos, sejam eles conhecimentos sobre as formas de reprodução da vida, sejam algoritmos de intermediação da comunicação humana.
Mesa 1.3 (Porto Alegre)
"CONVERGÊNCIAS:
O QUE CÓDIGOS TEM A VER COM MÚSICA, FILMES, JOGOS E REALIDADES ALTERNATIVAS?"
As redes digitais estão transformando modos, práticas e costumes. Realidades virtualizadas, alternativas lúdicas, a intensificação da interatividade, demonstram que as formas de apreciação das artes e o entretenimento passivo estão sendo substituídos pelo ativismo lúdico nos games, nos filmes-processos, na montagem distribuída e colaborativa de obras de tecno-arte. A mesa explorará as novas possibilidades e conflitos do audio-visual, da produção musical, da literatura distribuída, dos softwares abertos e livres, das simulações em um ambiente crescentemente permeado pela cultura da convergência e pela mobilidade crescente.
Mesa 1.4 (Porto Alegre)
"ESFERA PÚBLICA CONECTADA:
O QUE AS TELECOMUNICAÇÕES E A TV DIGITAL TEM A VER COM O COMUM?"
O digital re-inventa e impacta a instituída mídia e suas expressões analógicas. As redes digitalizadas redefinem e ampliam os limites da esfera pública. As novas tecnologias da informação e comunicação permitiram que a idéia dos "commons" avançasse velozmente no cenário da cultura digital. A TV Digital, tal como ocorreu com a internet, será reconfigurada pelos cidadãos. A mesa discutirá as experiências das redes sem fio (mesh, wifi e ad hoc), as redes virais, a transformação dos espaços por onde transitam as ondas de rádio em vias públicas, a superação das formas analógicas de distribuição de freqüências radioelétricas, pensadas para a realidade tecnológica e política do início do século XX. Propõe tratar o espectro não como uma propriedade privada ou concedida a agentes privados, mas como uma via pública onde todos poderão transitar. O digital permite questionar a escassez do espectro e fragiliza a idéia de interferência e ruído.
Mesa 2.1 (Natal)
"O QUE A EDUCAÇÃO TEM A VER COM A AUTONOMIA POLÍTICA E TECNOLÓGICA?"
A crise da medição do valor em uma sociedade do conhecimento, cada vez mais centrada na ampliação das informações e na substituição da lógica da reprodução pela lógica da inovação contínua, coloca em xeque nosso sistema educacional. O aprendizado exige a exploração das redes de saberes e das malhas de produção de conehcimento. A mesa discutirá a Educação e sua relação com a tecnologia, bem como, buscará equacionar o seu novo estatuto diante de uma sociedade de hiperintermediação da comunicação e de novas exigências para a formação ética e para novas exigências da autonomia política.
Mesa 2.2 (Natal)
"O QUE O ANONIMATO NA REDE TEM A VER COM A DEMOCRACIA E COM A BIOPOLÍTICA?"
Os rastros digitais, os controles de movimentos nas redes realizados pelas grandes corporações visam a ampliação do monitoramento dos hábitos dos seus possíveis consumidores. Formas de comportamento e gostos nascem de opções estéticas baseadas na desgastada ética do progresso e da subordinação da natureza. A mesa debaterá a realidade de um enfrentamento. Enquanto as multidões conectadas praticam a estética da liberdade e do ativismo contra a apropriação privada dos diversos códigos do conhecimento, defendendo a sustentabilidade dos espaços culturais e naturais comuns, articulam-se ações do poder constituído para eliminar o anonimato e implantar uma informática de dominação que coloca em risco a idéia de democracia e o direito das gerações futuras à liberdade e a diversidade ambiental do planeta.
Mesa 2.3 (Natal)
"O QUE A TECNO-ARTE E A CIBERCULTURA TEM A VER COM A ESTÉTICA DA MULTIDÃO?"
Se a cibercultura abriga pequenas totalidades, mas sem pretenção ao universal. Os vários movimentos e mobilizações tecno-artísticos e ciberculturais dependem e recriam-se na própria diversidade. Uma diversidade em contínua construção. A mesa buscará mostrar a construção de uma estética que supera o ideal romântico que declarou a originalidade como a única expressão autêntica da cultura. Também tentará debater que a propriedade intelectual precisa de um novo equilíbrio compatível com o incentivo dos novos ativismos e dos criadores das diversas culturas recombinantes, tradicionais e pós-modernas, que articulam-se em torno de artes consolidadas como o cinema e partem para os jogos eletrônicos e as realidades alternativas.
Mesa 2.4 (Natal)
"O QUE A CONVERGÊNCIA DIGITAL E A TV PÚBLICA TEM A VER COM A DIVERSIDADE CULTURAL?"
Em tempos de intensa digitalização da produção simbólica da humanidade, é preciso pensar a política de regulação e as transformações na esfera pública que agora vai constituindo-se como a conexão de espaços móveis, locais-transnacionais e espacialmente distribuídos. Nesse contexto, a mesa propõe superar a discussão da montagem de uma TV digital dentro dos marcos do analógico, quer pensar como a cultura da convergência poderá contribuir na formação de uma rede pública de "envio-e-recebimento" de todos (broadcasting) que estará vinculada a crescente presença das webTVs, bem como apontará a enorme dificuldade de manter a diversidade cultural em um cenário de crise da idéia de audiência, de riscos de predomínio da micro-produção "do mesmo". Também apontará o que está revolucionando as práticas de convergência.
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