DIA DE VISITA episódio da série BRAVA GENTE roteiro de Jorge Furtado e Giba Assis Brasil 4º tratamento - 29/05/2001 produção: Casa de Cinema de Porto Alegre para TV Globo *************************************************************** CENA 1 - EXT/NOITE - ESTRADA Uma estrada de terra pouco iluminada, à noite. Em volta, árvores, zona rural. Ao longe vem vindo um carro, que se aproxima e passa em alta velocidade. CENA 2 - INT/NOITE - CARRO Dentro do carro estão FREDERICO, o motorista, 25 anos, nervoso, olhos atentos na estrada; ao seu lado, ISIDORO, 35 anos, revólver na mão, olhando o tempo todo para trás; no banco de trás, PAULO, 17 anos, examinando algo dentro de uma sacola de couro. FREDERICO (sorrindo) Enganamos eles de novo. ISIDORO Muita sorte. Aquela patrulhinha não veio atrás de nós. PAULO Isidoro, tem muita grana aqui. FREDERICO (para trás) Não mexe nesse dinheiro, garoto. ISIDORO Deixa ele. O carro faz uma curva arriscada e entra numa estrada lateral. ISIDORO Por que você entrou aqui? PAULO Acho que tem mais de quinhentos mil. FREDERICO Fica na tua, Mané. Eu que sabia da boate, eu que sei pra onde a gente vai. ISIDORO (mostrando a arma) Ninguém é Mané aqui, meu. O Paulo quer saber, e eu também. Que boate é essa que tem quinhentos mil no caixa? FREDERICO (sorrindo) Carnaval... (tom) Isidoro. CENA 3 - EXT/NOITE - LOCAL DA EMBOSCADA O carro pára numa clareira bastante iluminada. Frederico e Isidoro descem, armas na mão. Isidoro olha em volta, Frederico sai andando. ISIDORO Não tou gostando disso, Fred. Isso não é mocó. Quem tá armando? FREDERICO Calma. É o combinado. Eu que sei. Paulo também desce, com a sacola. Os dois vão atrás de Frederico. ISIDORO Sabe nada! Por que não falou que a boate era ponto de droga? FREDERICO Quem falou em droga? ISIDORO Ninguém falou. Aqui é tudo Mané. E eles venderam quinhentos mil de confete. Grande noite! FREDERICO Cala a boca e ajuda o garoto com a sacola. Tem um mocó ali adiante. Isidoro, ainda contrariado, vira-se para Paulo, que ainda está ao lado do carro. Neste momento, um tiro, vindo não se sabe de onde, atinge Paulo no peito. ISIDORO Que é isso? Isidoro vira-se e vê, em cima de uma espécie de torre, alguém com um rifle, atirando neles. Vira-se para Frederico, que agora está com a arma apontada para ele. ISIDORO Desgraçado! Isidoro não chega a atirar em Frederico, mas este é atingido pelas costas e cai. Isidoro volta a olhar para a torre. Em seguida, joga-se no chão, num salto acrobático, fugindo da mira do atirador. Isidoro atira em direção à torre. Olha para Frederico, no chão, agonizante, com cara de quem não está entendendo nada. ISIDORO Você que sabe, né? PAULO (OFF) (com dificuldade) Isidoro... Isidoro corre para Paulo, que está ajoelhado ao lado do carro, segura-o. ISIDORO Paulo. Tá bem? Um segundo tiro atinge Paulo no ombro. Isidoro responde fogo e empurra Paulo para dentro do carro. Fecha a porta e corre para o outro lado. Um tiro atinge o vidro da frente do carro. Paulo consegue contornar o carro e entrar pela outra porta. Começa a manobrar, apressado, enquanto fala com Paulo. ISIDORO Paulo, tá inteiro? PAULO Quase... Isidoro volta a olhar para a torre e percebe que o atirador desceu, e se aproxima correndo, rifle na mão. ISIDORO Nós vamos escapar dessa, Paulinho. Vamos enganar eles de novo. O carro já está terminando a manobra. Isidoro olha para o espelho retrovisor lateral, exatamente quando este é estraçalhado por um tiro. Na clareira, o carro foge em velocidade, enquanto o atirador continua, com o rifle na mão, a atirar em sua direção. FADE OUT FADE IN CENA 4 - INT/NOITE - APARTAMENTO: SALA, COZINHA, QUARTO Sala de um apartamento. Um sofá, mesa de centro, duas poltronas, um aparelho de televisão, um armário com copos e pratos, uma mesa, quatro cadeiras. Uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes na parede. Ao fundo, uma janela com grades, cortina de voile aberta. Na rua, a copa de uma árvore, a luz acesa de um poste e os prédios do outro lado da rua. Na direita, a porta que dá para a rua. Ao lado da porta da cozinha, a porta que dá para o interior do apartamento. DELOURDES, saia e casaco, entra da rua carregando a bolsa, um saco de supermercado e um abajur enrolado em papel. Ela acende a luz junto à porta, fecha a porta. Larga a bolsa e o embrulho do abajur na mesa e, enquanto tira do saco uma garrafa de leite, caminha até a cozinha. Delourdes acende a luz da cozinha, abre a geladeira, guarda o leite, apaga a luz da cozinha e volta para a sala com uma lâmpada e uma caixa de sabonete. Liga a televisão, larga o sabonete junto à televisão, tira o som da TV. Na TV, está passando o Fantástico, sem som. Delourdes larga a lâmpada sobre a mesa e abre o embrulho do abajur, de latão antigo, com uma bola de vidro fosco. Ela retira cuidadosamente a bola de vidro do abajur e coloca a lâmpada. Na televisão, notícia sobre fuga do presídio: apresentador falando sem som, a palavra FUGA em destaque, imagens do presídio, um policial mostrando por onde o prisioneiro fugiu. Delourdes põe a lâmpada no abajur e, com o cotovelo, derruba a bola de vidro da mesa. A bola rola pelo chão e se revela de plástico. Delourdes pega a bola no chão e põe no abajur. Procura pela sala o melhor lugar para colocar o abajur. Experimenta ao lado da TV. Não gosta. Experimenta numa mesinha ao lado do sofá, perto da janela. Gosta. Delourdes tira da mesinha uma revista, coloca ao lado da TV. Liga o abajur na tomada, acende e fica apreciando o resultado da luz na sala. Apaga a luz junto à porta da rua. Parada, ao lado da porta, Delourdes observa a sala. Na televisão surge a foto de um homem. (ISIDORO). Delourdes corre para a televisão, aumenta o som. LOCUTOR ... duzentos mil reais de uma boate em noventa e oito. A polícia federal está realizando buscas em todo o estado. (tom) Virada de mesa no campeonato brasileiro... Delourdes, perturbada com o que acabou de assistir, desliga a televisão. Corre até a porta, acende a luz e passa a correntinha na porta. Vai até a porta do quarto, abre a porta e acende a luz do quarto, sem entrar. Olha para dentro do quarto. O telefone toca. Delourdes caminha para o telefone, deixa tocar duas vezes. Atende mas não diz nada. Respira aliviada. Caminha até a janela com o telefone. Olha para fora, para os dois lados da rua, para baixo, tanto quanto lhe permite a grade. DELOURDES Oi, é você. (...) É, eu vi na tevê. (...) Vi só o final, mas achei que era isso. Fugiu quando? (...) Não, ele vai tentar sair do país. Eu acho. (...) Cheguei há pouco, tava trabalhando. (...) Tranquei. Tranquei. (...) Tá bom, mas não vem muito tarde, tenho que acordar cedo amanhã. (...) Não vou sair, sair para onde? (...) Tá bom. (...) Eu também. (...) Beijo. Delourdes desliga o telefone. Olha outra vez pela janela. Fecha a cortina. Vai até a porta outra vez, confere a chave e a correntinha. Apaga a luz junto à porta. Vem até a porta do quarto, acende a luz do quarto. Vai até o abajur e dá uma última olhada na sala antes de apagá-lo. Do lado de fora da janela, agarrado às grades, revelado pela súbita transparência da cortina, em silhueta, está ISIDORO. Delourdes, agora de costas para a janela, não o vê. Ela começa a tirar a roupa enquanto caminha na direção do quarto. Ela entra no quarto e encosta a porta. Som de rádio vindo do quarto, uma música romântica. Isidoro, pendurado na grade, tenta abrir a janela com um pedaço de lata. Consegue. Corre lentamente o vidro da janela, abrindo uma fresta. Isidoro puxa uma corda de nylon vermelha amarrada em sua cintura e, na ponta da corda, surge a ponta de um galho. Desamarra o galho. Com cuidado, Isidoro mete o galho pela janela, na direção da correntinha da porta. Isidoro leva algum tempo para conseguir tocar na correntinha. Depois de algumas tentativas, consegue empurrar a correntinha, que se solta, fazendo algum barulho. O som do rádio desaparece. A corrente fica balançando. Isidoro fica imóvel, segurando o galho pela janela da sala. A música do rádio recomeça. Isidoro recolhe lentamente o galho. Amarra outra vez o galho na corda. Fecha cuidadosamente o vidro. Delourdes, agora de camisola, entra na sala, acendendo a luz. (Iluminada por dentro, a cortina perde a transparência e Isidoro desaparece). Delourdes procura algo pela sala. Chega junto à porta, bem perto da correntinha. Vê o que procura do outro lado da sala. Atravessa a sala, pega a caixa de sabonete. Vai até a janela e abre a cortina. Na rua, a copa de uma árvore, a luz acesa de um poste e os prédios do outro lado da rua. Delourdes olha para a rua, para os dois lados. Fecha a cortina e volta para o quarto. Delourdes passa pelo quarto, onde há uma cama de casal com dois travesseiros do mesmo lado, e entra no banheiro. Abre a caixa de sabonete. Pára. Volta para a sala. Delourdes fica paralisada olhando para a correntinha da porta, agora aberta. Delourdes atravessa a sala lentamente, aproximando-se da porta. Delourdes corre e fecha a correntinha. Olha para a sala. Vai até a janela, olha para a rua, vê se a janela está bem fechada. Apaga a luz junto à porta, atravessa a sala e entra no quarto. Isidoro está sentado na cama. Tem uma arma na mão. Delourdes fica parada, olhando-o, sem reação. ISIDORO Por que a surpresa? Hoje não é dia de visita? Isidoro recosta-se, põe os pés sobre a cama. DELOURDES Tira os pés da minha colcha. Isidoro sorri e tira os pés da colcha. Levanta, aproxima-se de Delourdes apontando a arma. DELOURDES Tu é muito otário de aparecer aqui. ISIDORO Por quê? Tá esperando alguém? DELOURDES Estou. E ele é da polícia. ISIDORO Velho ou moço? DELOURDES Mais moço que você. E mais bonito. Isidoro ri, abaixa a arma, abraça Delourdes ISIDORO Você não sabe mentir, Delourdes. Beijam-se. Delourdes empurra Isidoro. ISIDORO Por que você não foi me visitar? DELOURDES Eu trabalhei hoje, Isidoro. ISIDORO E na semana passada? E na outra? DELOURDES A loja tá abrindo domingo. Eles pagam hora extra. Eu preciso arrumar a minha vida. ISIDORO Duas semanas. Três, contando hoje. DELOURDES Cansei de ir lá pra brigar. ISIDORO Você tá com alguém. DELOURDES Estou. Já te disse. E ele é da polícia. Tá chegando daqui a pouco. ISIDORO É mentira. Olha no meu olho e diz que não quer mais saber de mim. Diz e eu vou embora e nunca mais te procuro. Delourdes dá as costas para Isidoro. DELOURDES Vai embora. Não quero tiro aqui em casa. Isidoro sorri, larga a arma sobre a mesa de cabeceira. Levanta os braços, como se estivesse ameaçado por uma arma. ISIDORO Tou desarmado. Delourdes, já próxima à parede, volta a olhar para Isidoro, séria. Ele se aproxima dela, mãos levantadas, mas também sério. Ela fecha os olhos e fala baixo, quase sussurrando. DELOURDES Vai embora, Isidoro. Ele continua se aproximando. O rosto dele já está quase colado ao dela. Ela continua de olhos fechados. Lentamente, ele baixa os braços e, com a mão, toca de leve no rosto dela. Ela reage soqueando as costas dele, depois abraçando-o, em seguida soqueando-o de novo, agarrando com força o tecido da camisa dele. Os dois estão de pé, ela encostada na parede e abraçada nele, ele inclinado sobre ela, num beijo apaixonado, com tesão e urgência. Ela volta a soquear as costas dele, sem parar de beijá-lo, e enlaça as pernas em torno da cintura dele. Então, sem interromper o beijo, ele a conduz em direção à cama. Atrás deles, na parede, o quadro de Nossa Senhora de Lourdes observa. CENA 5 - INT/NOITE - APARTAMENTO: QUARTO, BANHEIRO A porta do armário se abre. Isidoro, agora sem camisa, olha para dentro do armário, procurando. ISIDORO Onde é que tá a minha roupa? Delourdes, recostada na cama, termina de vestir sua blusa. DELOURDES Tem uma calça na gaveta de baixo. Isidoro encontra uma calça na gaveta, pega-a. ISIDORO Camisa não? DELOURDES Não. Pega uma camiseta minha. E te manda logo. Isidoro escolhe camisetas, deixa duas sobre a cama. Delourdes pega a arma na mesinha de cabeceira. DELOURDES Você não ia esperar o natal? Não falou que podia sair este ano, se tivesse bom comportamento? ISIDORO Eu não sou comportado. E eu precisava te ver. Delourdes olha para Isidoro, que está olhando para ela, com sinceridade. Mas ela em seguida desvia o olhar. DELOURDES Como você conseguiu fugir? ISIDORO Lá dentro se consegue tudo. DELOURDES Se tiver dinheiro. Isidoro sorri. Sai, com a camiseta na mão, em direção ao banheiro. DELOURDES E esta arma? Ele entra no banheiro, liga o chuveiro. ISIDORO Foi um presente. Vou deixar com você. Agora eu tenho outra. Ela larga a arma na cama. DELOURDES Não quero arma na minha casa. Nunca mais. Isidoro pega a arma, põe em cima do armário. ISIDORO Eu deixo em cima do armário. Você pode precisar. Ele entra no chuveiro. Ela fica parada na porta do banheiro. DELOURDES Onde é que você vai? ISIDORO Buscar o dinheiro. DELOURDES Você sabe onde está o Paulo? ISIDORO Sei. DELOURDES Onde? ISIDORO Para que você quer saber? DELOURDES Para que eu quero saber? O Paulo é meu irmão. É uma criança. ISIDORO Não é mais. DELOURDES Ele nunca tinha feito assalto, nada. ISIDORO Sempre tem uma primeira vez. DELOURDES Há três anos eu não vejo ele. Quero saber se ele está bem. Você falou com ele? ISIDORO Não. O dinheiro não tá com ele. Tá comigo. DELOURDES Como assim? Isidoro desliga o chuveiro, pega uma toalha, começa a se secar. ISIDORO Tá comigo. Eu escondi. DELOURDES O dinheiro tá com você? O dinheiro do assalto? ISIDORO Tá. DELOURDES Onde? ISIDORO Para que você quer saber? DELOURDES Isidoro, você passou três anos dizendo que o Paulo tinha fugido com o dinheiro e agora diz que o dinheiro tá com você. Onde? Cadê o Paulo? Isidoro termina de se secar, vai indo em direção ao quarto. Delourdes vai atrás. ISIDORO Você não vai comigo? DELOURDES Para onde? ISIDORO Qualquer lugar. Com oitocentos mil você pode escolher. Você não sempre quis conhecer a Bahia? DELOURDES Oitocentos mil? Você nunca me falou que era tanto. Isidoro, já no quarto, começa a se vestir. Escolhe uma camiseta, deixa outra sobre a cama. ISIDORO É. Não falei. DELOURDES E o Paulo? Já pegou a parte dele? ISIDORO Não. DELOURDES Não quero viver fugindo. Isidoro sai em direção à cozinha, Delourdes sempre atrás. ISIDORO Ninguém vai nos procurar lá. A gente some. Compra uma casa numa praia, uma cidade pequena. Eu posso trabalhar, abrir um negócio. Uma churrascaria. DELOURDES E o Paulo? ISIDORO Esquece o Paulo. Isidoro chega na cozinha, abre a geladeira. Delourdes, atrás dele, insiste. DELOURDES Como assim? ISIDORO Esquece. DELOURDES O que aconteceu, Isidoro? Por que você tá falando isso agora? Isidoro pega uma panela na geladeira, abre a tampa, examina. ISIDORO Tem outras coisas que eu nunca te contei. DELOURDES Do assalto? Isidoro prova o feijão da panela com uma colher. DELOURDES O que você não me contou, Isidoro? ISIDORO Do assalto. Da fuga. DELOURDES O que aconteceu? Isidoro volta para a sala, com a panela na mão. Delourdes o segue. ISIDORO Era uma cilada, o cara que planejou o assalto armou uma cilada. DELOURDES Que cara? O segurança da boate? ISIDORO Não, o Frederico morreu na fuga. O chefe dele. O cara que planejou o assalto. Nos recebeu à bala. Acertou o Paulo. Mas a gente fugiu. Com o dinheiro. DELOURDES Fugiu? E o Paulo? ISIDORO A gente se escondeu. DELOURDES Onde? ISIDORO Lembra onde o teu pai trabalhou um tempo, perto de Viamão? DELOURDES Lembro. ISIDORO O lugar tá abandonado há anos. Ficamos lá dois dias e os otários não nos acharam. DELOURDES Terminaram achando. ISIDORO Me acharam quando eu quis. Em outro lugar. E sem o dinheiro. DELOURDES E o Paulo? Toca a campainha. Isidoro rapidamente larga a panela de feijão sobre a mesa e vai para o quarto pegar sua arma. Delourdes o segue. Falam baixo. ISIDORO Quem é? DELOURDES É o João. Da polícia. ISIDORO Diz para ele entrar. DELOURDES Tá louco? Você tem que fugir. ISIDORO Diz para ele entrar. Eu mato esse cara. Mato vocês dois. Ela liga o chuveiro e começa a tirar a roupa. Solta o cabelo. DELOURDES Sai daqui. Pela porta da cozinha. Depois você volta. ISIDORO Diz para ele entrar. DELOURDES Ele anda armado. ISIDORO Eu também. DELOURDES Você vai matar um policial e ser preso de novo? Quer morrer? Mando ele embora, você volta depois. Delourdes pega a panela de feijão sobre a mesa e empurra Isidoro de volta até a cozinha. DELOURDES Espera ele entrar e sai. Ele não vai demorar. Não faz barulho. Delourdes deixa a panela na cozinha, fecha a porta, corre no quarto e busca uma toalha. Isidoro abre a porta da cozinha. ISIDORO Quanto tempo? DELOURDES Sai! Delourdes fecha a porta da cozinha. DELOURDES Já vou! Delourdes enrola-se na toalha, abre a porta. JOÃO, 30 anos, sorridente, pacote na mão, entra. Beijam-se. DELOURDES Desculpe, estava entrando no banho. JOÃO Ele não ligou? DELOURDES Não. João fecha a correntinha. JOÃO Acho que você tem razão. Ele não vai ser louco de aparecer aqui. Você já jantou? João vai na direção da cozinha. DELOURDES Já. João abre a porta da cozinha. Entra. Delourdes vai atrás. DELOURDES Quer que eu esquente a comida? JOÃO Não, estou sem fome. Eu trouxe ambrosia. Quer? DELOURDES Depois. João abre a geladeira, guarda o pacote. JOÃO Vai tomar teu banho. Eu espero. DELOURDES Tá bom. Delourdes sai. João pega um pedaço de pão sobre a mesa da cozinha. Vai até a sala, olha pela janela, para os dois lados. Fala alto, na direção do banheiro. JOÃO Como foi o dia? Valeu a pena trabalhar domingo? No banheiro, Delourdes, sentada no vaso, chora com o rosto escondido na toalha. O chuveiro está ligado. Ela disfarça e responde, alto, em direção à sala. DELOURDES Normal. João entra no quarto, a porta do banheiro está fechada. João pega uma camiseta de Delourdes sobre a cama. Com a camiseta na mão, procura algo sobre o armário. Pega a arma, examina. Tira as balas. CENA 6 - EXT-INT/NOITE - OBRA / APARTAMENTO Isidoro, atrás do tapume de uma obra, observa a janela do apartamento. Vê João guardando a arma sobre o armário. João acende um cigarro e fica observando a janela. CENA 7 - INT/NOITE - APARTAMENTO: QUARTO João larga a camiseta na cama. O som do chuveiro pára. João tira o casaco. A porta do banheiro se abre, Delourdes surge enrolada numa toalha. João se aproxima dela. Abraça-a. Delourdes abaixa a cabeça. João segura e ergue o rosto dela. Ele sorri. Ela sorri. Beijam-se. DELOURDES É melhor você ir embora. JOÃO Por quê? Tá esperando alguém? DELOURDES Tenho que acordar cedo, você também. JOÃO Eu não quero que você fique sozinha hoje. DELOURDES Mas eu quero ficar sozinha. JOÃO Eu durmo na sala. DELOURDES Ele não vai aparecer aqui. JOÃO Não é só isso. Eu tenho que te contar uma coisa. DELOURDES Que coisa? João senta ao lado dela. JOÃO A gente descobriu o cara que facilitou a fuga do Isidoro. Ele contou uma história, pode ser mentira. DELOURDES Que história? JOÃO Sobre o Paulo. Teu irmão. Delourdes levanta, João a segue. DELOURDES O que foi? JOÃO Calma. Pode ser mentira. DELOURDES Fala. JOÃO O Isidoro ofereceu pro cara a parte do Paulo. Do dinheiro do assalto. Disse que era muito mais do que saiu no jornal. Oitocentos mil. DELOURDES E aí? JOÃO Ele disse que o Paulo está morto. DELOURDES Quem disse? JOÃO O Isidoro. Disse pro cara que o teu irmão está morto. Pode ser mentira. O Isidoro disse pro cara que ele matou o Paulo. Matou e enterrou. Pode ser mentira do cara, e também pode ser mentira do Isidoro. DELOURDES Ele disse onde? JOÃO Não. Disse que matou, enterrou e escondeu o dinheiro. Deve ser no lugar onde ele ficou escondido antes de ser preso. Delourdes começa a calçar os sapatos. DELOURDES Ele matou o Paulo. JOÃO Pode ser mentira. DELOURDES Eu sei que é verdade. JOÃO Calma. DELOURDES Eu sei onde é. JOÃO O quê? DELOURDES Eu sei onde o Isidoro ficou escondido. JOÃO Você disse que não sabia. DELOURDES Mas agora eu sei. JOÃO Como? DELOURDES O Isidoro me disse. JOÃO Quando? DELOURDES Ele esteve aqui. Hoje. JOÃO Aqui? E onde ele foi? DELOURDES Deve estar aí fora. João pega a sua arma. DELOURDES Ele não vai entrar. Tá esperando você sair pra voltar. JOÃO Como é que você sabe? DELOURDES Eu combinei com ele. Disse que ia te mandar embora. João pega o telefone. DELOURDES O que você vai fazer? JOÃO Ligar pra central. Mandar reforço. DELOURDES Não. Ele está armado. Se a polícia chega aqui ele vai entrar atirando. João desliga o telefone. JOÃO E a gente vai esperar ele entrar? DELOURDES Não. Você sai. Pega o carro e me espera no posto ali da esquina. JOÃO Como você vai sair? DELOURDES Eu dou um jeito. Vai. João pega o casaco, confere sua arma. João, arma na mão, abre a porta do apartamento. Espia o corredor. CENA 8 - INT/NOITE - CORREDOR DO PRÉDIO João desce as escadas, arma na mão. Delourdes pára na porta. JOÃO Se você não aparecer em dez minutos eu ligo para a central e volto. DELOURDES Tá bom. Guarda a arma. João guarda a arma, caminha pelo corredor, desce a escada. Delourdes espera ele se afastar e fecha a porta. CENA 9 - EXT/NOITE - FRENTE DO PRÉDIO João sai do prédio de Delourdes, caminha pela calçada. Dá uma olhada rápida para a obra em frente. Chega até um carro estacionado, pega no bolso a chave para abri-lo. CENA 10 - INT/NOITE - APARTAMENTO: QUARTO Delourdes, de volta ao seu quarto, sobe em uma banqueta, pega a arma sobre o armário. Desce da banqueta e coloca a arma na bolsa, com cuidado. CENA 11 - EXT/NOITE - FRENTE DO PRÉDIO João, já dentro do carro, liga-o. O carro parte e se afasta. Por trás do tapume da obra em frente, surge Isidoro, atento, silencioso. CENA 12 - INT/NOITE - CORREDOR DO EDIFÍCIO Isidoro, arma na mão, sobe as escadas do edifício. Pára em frente à porta do apartamento. Escuta. Pega a chave e abre a porta. Entra e fecha a porta. A luz do corredor se apaga. Delourdes está na escada, sentada, arma e sapatos na mão. Levanta-se e sai caminhando lentamente até a escada. Ao chegar à escada, acelera o passo, desce correndo. CENA 13 - EXT/NOITE - FRENTE DO PRÉDIO Delourdes, já na calçada, pára. Rapidamente, calça os sapatos. Então corre, na mesma direção por onde saiu o carro de João. CENA 14 - INT/NOITE - APARTAMENTO Isidoro, ainda com a arma na mão, entra no quarto, devagar, desconfiado. Abre a porta do banheiro. Vazio. Isidoro guarda a arma. Pára. Vai até o quarto. No quarto, passa a mão sobre o armário, no canto onde havia deixado a arma para Delourdes. Não encontra nada. CENA 15 - EXT/NOITE - CARRO Delourdes entra no carro de João. Bate a porta. DELOURDES Vamos embora! JOÃO Ele te viu? DELOURDES Não. Vai! João parte com o carro. Sem parar de dirigir, pega o rádio. JOÃO Alô, central. Três-zero-oito chamando. RÁDIO (OFF) Pode falar, Três-zero-oito. JOÃO Tem um cento e cinqüenta aqui. O elemento está armado, parece perigoso. Vou passar o endereço. CENA 16 - INT/NOITE - APARTAMENTO Isidoro revira o quarto: arreda a cama, levanta o colchão, vira a mesinha de cabeceira, procura algo. CENA 17 - EXT/NOITE - CARRO João dirige, Delourdes ao seu lado. DELOURDES Ele matou o Paulo. JOÃO Pode ser mentira. DELOURDES Eu quero ver o meu irmão. JOÃO Amanhã a gente vai lá, dá uma busca. DELOURDES Eu quero ver agora. Tenho que ter certeza. Se você não me levar, eu vou sozinha. João dirige, olha para ela. JOÃO Onde é? CENA 18 - INT/NOITE - APARTAMENTO Isidoro pára, vai até o telefone da sala. Examina o telefone. Não encontra nada. Olha para a santa. Isidoro examina a santa. Encontra algo escondido entre as flores de plástico: um pequeno microfone. Isidoro examina o microfone. Sai correndo. CENA 19 - INT/NOITE - OLARIA ABANDONADA Delourdes e João entram numa olaria abandonada. João tem uma lanterna e está de arma na mão. João ilumina as paredes, encontra um interruptor de luz. Acende. Uma única lâmpada amarelada ilumina parcialmente o lugar. João faz uma busca por câmaras vazias. Delourdes examina o chão. João entra numa das câmaras e, com a lanterna, ilumina o chão. Ali dentro há um fogão de pedra, latas vazias, tocos de vela, resto de duas camas improvisadas. A um canto, a lanterna de João ilumina algumas tábuas que obstruem um nicho na parede. João vai até o canto, afasta as tábuas. Ao contrário dos outros já vistos, este nicho está fechado por tijolos, colocados a mão, sem argamassa. João e Delourdes se olham. João entrega a lanterna para Delourdes. Ela segura a lanterna e ilumina o nicho. João vai até ali e começa a retirar os tijolos, um por um. CENA 20 - EXT/NOITE - RUAS Na rua, Isidoro olha em volta, chega próximo a um carro estacionado, encosta-se nele. Sirene de polícia ao longe. Isidoro rapidamente força a janela do carro, abre a porta. CENA 21 - INT/NOITE - OLARIA ABANDONADA Delourdes ilumina o interior do nicho, agora desobstruído. Lá dentro há um volume que não conseguimos identificar, envolto em pano e semicoberto por terra. João olha para Delourdes, abraça-a. Ela se desvencilha dele, ajoelha-se em frente ao buraco. Vira o rosto. João pega um pedaço de pau no chão, aproxima-se, inclina-se sobre o nicho. Mexe no volume lá dentro com seu pedaço de pau, observa. João pega alguma coisa no buraco. Na mão de João, sujo de terra, um escapulário com a imagem de Nossa Senhora de Lourdes. João olha para Delourdes. JOÃO Era do Paulo? Delourdes faz que sim com a cabeça. Seu rosto se contrai, num choro sem lágrimas. João a abraça. ISIDORO (OFF) Você tá dormindo com este cara? João afasta-se rapidamente de Delourdes. Isidoro está de pé, parado, a poucos metros de distância, apontando uma arma para eles. A expressão de Delourdes é de ódio. DELOURDES Eu vou te matar, Isidoro. Você matou o Paulo. Eu vou te matar. ISIDORO É com esse cara que você tá dormindo? DELOURDES É. E ele é muito melhor do que você. ISIDORO Mentira. Você não sabe mentir. Nunca soube. (para João) Cadê sua arma? João olha para o seu casaco, no chão entre os dois, onde se pode ver a arma. Isidoro se aproxima e pega a arma de João. JOÃO Imagino que o dinheiro esteja ali dentro também. ISIDORO Tá curioso? Isidoro, com a arma, faz um sinal para João em direção ao nicho. ISIDORO Pega. João se vira e volta a se inclinar sobre o nicho. Delourdes olha para Isidoro, sem dizer nada. Isidoro, sempre apontando a arma para João, olha para ela. João retira do nicho a grande sacola de couro. Isidoro sorri. Delourdes olha para a sacola e de novo para Isidoro. João deposita a sacola no chão, em frente a Isidoro. JOÃO Você já tem o dinheiro. Não precisa matar mais ninguém. Isidoro se aproxima de João, sempre apontando-lhe a arma. ISIDORO Eu não matei ninguém. Eu nunca matei ninguém. Mas pra tudo tem uma primeira vez. JOÃO Vai me matar? Tem que ser rápido, porque a patrulha vai chegar aqui em cinco minutos. ISIDORO (sorrindo) Chega, nada! Você não chamou patrulha nenhuma, pra poder ficar com o dinheiro. DELOURDES Você acha que todo mundo é que nem você? Mentiroso, assassino. Isidoro mexe com a mão esquerda no seu bolso, tira de dentro deste o pequeno microfone. ISIDORO Quer saber o que o teu namoradinho deixou na tua casa? Encontrei esse microfone na sala. Ele ouvia tudo que a gente conversava, sabia da arma em cima do armário. Delourdes, desconfiada, olha para João. JOÃO Mentira, eu não sei de onde ele tirou isso. Ele passou três anos dizendo que o teu irmão tinha fugido com o dinheiro. DELOURDES Por que você nunca me contou, Isidoro? ISIDORO Eu não podia. JOÃO Claro que não. A polícia tinha que acreditar que o Paulo tava vivo. Assim ele podia cumprir a pena e depois pegar o dinheiro e se mandar. ISIDORO Foda-se o dinheiro! (para Delourdes) Eu achei que assim você ia esperar por mim. DELOURDES Ele era meu irmão. JOÃO Ele matou o teu irmão, Delourdes. Pelo dinheiro. ISIDORO Foda-se o dinheiro! Eu só tinha mais seis meses de pena e você me largou. Me trocou por esse cara. Delourdes tira o revólver de dentro da bolsa e aponta para Isidoro, agora em posição defensiva. A expressão de Delourdes é de dúvida, de quem não sabe em que acreditar. DELOURDES Você matou o Paulo, Isidoro? ISIDORO Não! Rápido flash-back da cena 3: Paulo recebe o primeiro tiro e cai. ISIDORO Eu te falei: foi uma emboscada. A gente ia dividir o dinheiro em quatro, mas o cara nos recebeu a bala. JOÃO É mentira. Foram três que assaltaram a boate. Ele matou os dois pra ficar com todo o dinheiro. Delourdes continua apontando a arma para Isidoro, com as duas mãos. Isidoro está com a sua arma abaixada. DELOURDES Larga essa arma. ISIDORO Você não tem coragem de atirar. Não em mim. DELOURDES Você matou o meu irmão. Larga essa arma! ISIDORO Não fui eu! Rápido flash-back da cena 3: Frederico recebe um tiro e cai. Isidoro atira e segura Paulo. ISIDORO Eu tentei salvar o Paulo. Carreguei ele pra dentro do carro e consegui fugir. JOÃO Não foi essa história que ele contou na prisão. Não foi essa história que ele contou pra você. DELOURDES Por que o Paulo morreu? Por que você não me contou isso antes? Rápido flash-back da cena 3: Isidoro manobrando o carro para fugir, em meio a uma saraivada de tiros. ISIDORO Fiquei com o Paulo dois dias aqui. Ele não podia caminhar, tava perdendo muito sangue. JOÃO A prova é o dinheiro, Delourdes. Só ele sabia onde estava o dinheiro este tempo todo. Isidoro olha para a sacola de dinheiro à sua frente, empurra-a com o pé, na direção de João. ISIDORO Foda-se o dinheiro! Quem tá interessado no dinheiro é ele. Deixa o dinheiro com ele e vamos embora, nós dois. Delourdes abaixa a arma, vencida. Isidoro e Delourdes se olham, ofegantes, apaixonados. João leva a mão às costas e pega o revólver que tem escondido na parte de trás da cintura. Rapidamente, aponta para Isidoro e atira. Isidoro é atingido. ISIDORO Era ele. Rápido flash-back da cena 3: Isidoro, na fuga, olha pelo espelho retrovisor. Quem ele vê apontando o rifle é João. O espelho explode com um tiro. Delourdes aponta a sua arma para João e dispara: som seco, sem bala. Delourdes dispara outra vez. E outra. A arma está sem balas. Isidoro cai, ferido na barriga. João se aproxima de Delourdes, que está atônita, ainda com a arma na mão, sem entender direito o que aconteceu. JOÃO Calma, meu amor. Você tá nervosa. É normal. João vai até a sacola de dinheiro, abre-a. Tira de dentro dela um maço de notas, dá uma conferida, joga-o de novo na sacola. JOÃO Aqui tem quase um milhão. Dá pra fazer uma vida. A gente pode sumir. Você não quis sempre ir pra Bahia? DELOURDES Como é que você sabe? João fica olhando para ela um segundo. Delourdes pega a faca quebrada e crava na barriga de João. João larga a arma e cai. Delourdes se ajoelha ao lado de Isidoro. Ele se ergue com dificuldade. ISIDORO Você tem que fugir. Esconde o dinheiro. Isidoro arranca a faca do peito de João. DELOURDES Vou chamar uma ambulância. Isidoro limpa o cabo da faca com a camisa. ISIDORO Não. Esconde o dinheiro. Liga para a polícia e diz que eu estou aqui. DELOURDES Eu não vou te deixar sozinho. ISIDORO Você tem que chamar a polícia, eu vou morrer aqui. Vai, rápido. Esconde o dinheiro. Delourdes olha para João. DELOURDES E ele? ISIDORO Para tudo tem uma primeira vez. Isidoro segura o cabo da faca e crava em João. Isidoro cai. ISIDORO Vai, rápido. Delourdes vai saindo, carregando a sacola. ISIDORO Espera. Delourdes volta. Isidoro estende a ela o escapulário de Paulo. ISIDORO Leva isso. Delourdes pega o escapulário, coloca-o em Isidoro e sai. Isidoro fica no chão, ao lado do corpo de João e do nicho onde está o corpo de Paulo. CENA 22 - INT/DIA - CELA Delourdes, de pé atrás das grades de uma cela, abotoa a camisa. Pega uma escova na bolsa e penteia os cabelos. De repente, ela parece se lembrar de algo. DELOURDES Comprei uma coisa pra você. Isidoro, recostado na cama da cela, sem camisa, com o escapulário de Paulo no peito e um curativo na barriga, sorri. ISIDORO Não tá gastando da nossa poupança? DELOURDES Claro que não. Delourdes abre a bolsa e tira de dentro dela uma caixinha. Entrega para Isidoro, que está terminando de acender um cigarro. Isidoro senta na cama, pega a caixinha, abre, divertido. Dentro da caixinha tem um daqueles motos-perpétuos de brinquedo. Isidoro olha para aquilo por um instante sem entender. Olha para Delourdes. Ela, divertida, pega o objeto e coloca em movimento as bolinhas, que a partir de então não param mais de ir e vir. Isidoro fuma e sorri para ela. ISIDORO O que é isso? DELOURDES Tem lá na loja. Quando não tem cliente eu fico olhando. Não pára nunca. Os dois acompanham um pouco as bolinhas indo e vindo e depois se olham, apaixonados, serenos. Delourdes volta a olhar para o brinquedo. DELOURDES Dá uma sensação de paz. ISIDORO É... Uma batida tripla do lado de fora da cela. Delourdes e Isidoro imediatamente reconhecem o sinal e preparam. Um agente carcerário abre a cela. Delourdes dá um beijo em Isidoro. ISIDORO Domingo você vem? DELOURDES Venho, claro. Delourdes sai. O agente fecha a cela. Isidoro fica olhando para o brinquedo, as bolinhas que vêm e vão. Delourdes caminha pelas galerias do presídio. *************************************************************** FIM (c) Jorge Furtado e Giba Assis Brasil, 2001 Casa de Cinema de Porto Alegre http://www.casacinepoa.com.br