A HORA DA ESTRELA episódio da série CENA ABERTA baseado na novela de Clarice Lispector roteiro de Jorge Furtado e Guel Arraes versão de 13/08/2003 produção: Casa de Cinema de Porto Alegre para TV Globo ***************************************************************** CENA 1 - CASA DA CARTOMANTE Sala da casa da cartomante. Câmera sempre em ponto de vista de Macabéa, que nunca aparece. A Cartomante é representada pela Regina. Câmera segue a Cartomante pela casa até sua mesa de trabalho. Créditos. CARTOMANTE O meu guia já tinha me avisado que você vinha me ver, minha queridinha. Você é Macabéa, não é? É um nome muito lindo. Entre, meu benzinho. Aceita um cafezinho, minha florzinha? Não tenha medo de mim, sua coisinha engraçadinha. Porque quem está ao meu lado está ao mesmo tempo ao lado de Jesus. Eu sou fã de Jesus. Sou doidinha por ele. Ele sempre me ajudou. Corte. As cartas, separe as cartas. Enquanto fala a Cartomante vai botando as cartas a mesa. CARTOMANTE (vendo as cartas) Mas, Macabeazinha, que vida horrível a sua! Que meu amigo Jesus tenha dó de você, filhinha! Mas que horror! Quanto ao presente, queridinha, está horrível também. Você vai perder o emprego e já perdeu o namorado, coitadinha de vocezinha. Senão puder, não me pague a consulta, que eu tenho recursos. Macabéa! Tenho grandes notícias para lhe dar! É coisa muito séria e muito alegre: sua vida vai mudar completamente! E digo mais: vai mudar a partir do momento em que você sair da minha casa! Você vai se sentir outra. Fique sabendo, minha florzinha, que até o seu namorado vai voltar e propor casamento, ele está arrependido! E seu chefe vai lhe avisar que pensou melhor e não vai mais lhe despedir! Você vai conhecer um estrangeiro. Ele é alourado e tem os olhos azuis ou verdes. E se não fosse porque você gosta de seu ex-namorado, esse gringo ia namorar você. Se não me engano, e nunca me engano, ele vai lhe dar muito amor e você, minha enjeitadinha, você vai se vestir com veludo e cetim e até casaco de pele vai ganhar. Faz tempo que não boto cartas tão boas. E sou sempre sincera. Eu sou obrigada por Jesus a lhe cobrar porque todo o dinheiro que eu recebo das cartas eu dou para um asilo de crianças. Mas se não puder não pague, só venha me pagar quando tudo acontecer. E agora você vai embora para encontrar o seu maravilhoso destino. CENA 2 - RUA Macabéa sai na rua, feliz. Vai atravessar a rua, vê um gringo entrando num carro. Se distrai e é atropelada. Cena toda feita em câmera subjetiva. O acidente é visto em plano geral sem que vejamos o rosto da atriz que faz o papel. CENA 3 - RUA Cena típica de depois do acidente, populares carro de polícia corpo coberto com plástico, vela. REGINA (pra câmera) Esta é a cena final de A Hora da Estrela (mostra a capa de um livro com o título: "A Hora da Estrela" e o nome da autora: Clarice Lispector), romance escrito por Clarice Lispector. É também a cena que dá o título a história, já que "A Hora da Estrela " é a hora da morte da personagem principal, Macabéa. A câmera acompanha Regina que vai se afastando da cena do atropelamento de maneira que vamos vendo o set de filmagem ao fundo com sua parafernália típica de refletores, caminhões, equipamento (talvez uma chuva artificial). REGINA (lê) "Ninguém lhe ensinaria um dia a morrer, assim como não se ensina cachorro a abanar o rabo e nem a pessoa a sentir fome: nasce-se e fica-se logo sabendo. Morreria um dia como se antes tivesse estudado de cor a representação do papel de estrela. Pois na hora da morte a pessoa se torna brilhante estrela de cinema, é o instante de glória de cada um..." As luzes do set vão apagando, o equipamento sendo recolhido (se houver chuva artificial ela vai parando) etc. REGINA (fechando o livro) Na história de Clarice, Macabéa morre no fim. Mas como este fim já passou no início, quem sabe agora a gente vai poder terminar no meio, que é mais alegre... Em todo caso, é melhor começar do começo. CENA 4 - ESTÚDIO Câmera documenta a movimentação de meninas que vieram fazer teste de atriz. Regina está por ali. REGINA Bem no começo a gente abriu um teste de atriz para encontrar uma moça com cara de 19 anos, nordestina, franzina, que pudesse fazer o papel de Macabéa. (Vai mostrando a quantidade de meninas, dando dados, etc.) Regina entrevista as candidatas sobre tv, se assistem, se gostam, atrizes preferidas. Já pensou em ser atriz? Por quê? Por que não? Para as que sonham com o glamour do negócio explica que Macabéa é o contrário disso, ela é uma anti-estrela. É mais fácil uma tímida fazer uma tímida ou uma extrovertida fazer uma tímida? (***fazer pesquisa e pauta) REGINA Dessa primeira batelada de entrevistas a gente escolheu quatro meninas que são as, digamos, finalistas. Elas vão fazer o teste para a personagem participando daqui pra frente de algumas cenas da história até a gente se decidir quem vai ficar como Macabéa até o fim. (abre o livro e começa a ler) Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. CENA 5 - BAR Moça 1 num bar, no balcão. O Garçon serve um café com leite. Ela pega o açucareiro, enche de açúcar. O Garçon tira o açucareiro da mão dela. Ela pede desculpas. Moça 2 num bar, no balcão. O Garçon serve um café com leite. Ela pega o açucareiro, enche de açúcar. O Garçon tira o açucareiro da mão dela. Ela pede desculpas. Moça 3 num bar, no balcão. O Garçon serve um café com leite. Ela pega o açucareiro, enche de açúcar. O Garçon tira o açucareiro da mão dela. Ela pede desculpas. Moça 4 num bar, no balcão. O Garçon serve um café com leite. Ela pega o açucareiro, enche de açúcar. O Garçon tira o açucareiro da mão dela. Ela pede desculpas. REGINA (OFF) Como esta nordestina há milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa. Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiriam como não existiriam. Macabéa não sabia que ela era o que era, assim como um cachorro não sabe que é um cachorro. Daí não se sentir infeliz. A única coisa que queria era viver. Não sabia para quê, não se indagava. CENA 6 - DEPOIMENTOS Os depoimentos das moças serão meio documentais meio encenados, seja trechos do livro como indicado abaixo seja respostas espontâneas a perguntas tipo: Você é feliz? se você não fosse feliz teria vergonha de dizer? Você conhece alguém que é muito feliz? E esta pessoa se acha feliz? E infeliz? As falas podem ser repetidas por mais de uma moça, em tons diferentes. MOÇA 1 A pessoa tem obrigação de ser feliz. Por isso, eu sou. MOÇA 2 Eu acho que tem uma gloriazinha em viver. MOÇA 3 Eu acho bom ficar triste. MOÇA 4 Tristeza é coisa de rico, é pra quem pode, pra quem não tem o que fazer. Tristeza é luxo. CENA 7 - PENSÃO Moça 1 pega a bolsa, apaga a luz e sai do quarto. Moça 2 fecha a porta do quarto da pensão. Moça 3 entrega a chave para a dona da pensão. Moça 4 sai na rua. Cruza com duas Garotas de Vida Fácil, na calçada. REGINA (OFF) Sei que há moças que vendem o corpo, única posse real, em troca de um bom jantar em vez de um sanduíche de mortadela. Mas a pessoa de quem falarei mal tem corpo pra vender, ninguém a quer, ela é virgem e inócua, não faz falta a ninguém. Ela era incompetente para a vida. Faltava-lhe o jeito de se ajeitar. Só vagamente tomava conhecimento da espécie de ausência que tinha de si em si mesma. CENA 8 - DEPOIMENTOS (***fazer pauta de perguntas para obter respostas sobre esse tema) MOÇA 4 O mundo é fora de mim. Eu sou fora de mim. MOÇA 1 A vida é assim: uma dia a gente aperta o botão e ela acende. Mas tem que descobrir onde fica o botão de acender. MOÇA 2 Antes de nascer a pessoa é o que? Uma idéia? A pessoa está morta? CENA 9 - RODOVIÁRIA Moça 1 desce do ônibus. Câmera acompanha até encontrar Moça 2 que está pegando sua bagagem no ônibus. Ela sai com mala, câmera acompanha até encontrar Moça 3, dormindo num banco. Moça 4 cruza a cena, câmera a acompanha. Ela larga a mala no chão. Um Homem se aproxima, oferece ajuda, pega a mala dela e sai correndo. Ela sai atrás. Câmera acompanha até perdê-la num plano geral com a cidade ao fundo. REGINA (OFF) Quando ela era pequena, como não tinha a quem beijar, beijava a parede. Com dois anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres ruins no sertão de Alagoas. Muito depois fora para Maceió com a tia beata, única parenta sua no mundo. Depois - ignora-se por que - tinha vindo para o Rio, o inacreditável Rio de Janeiro. CENA 10 - ESCRITÓRIO O chefe, seu Silveira, examina um documento digitado por Macabéa, representada pela Moça 1. SEU SILVEIRA Você digita muito devagar, não acerta a formatação e parece que tem raiva de duas consoantes juntas. (mostra no papel) Desi-gui-nar, i-gui-nição. E ainda quer que eu, A-gui-naldo Silveira, assine isso. Você é muito i-gui-norante Macabéa. MACABÉA Sou um pouco fraca de estudo, seu Silveira. SEU SILVEIRA Você erra demais. Desse jeito só vou poder manter Glória no emprego. MACABÉA Me desculpe o aborrecimento. SEU SILVEIRA (se arrependendo, com pena) Bem, a despedida pode não ser pra já, é capaz até de demorar um pouco. Seu Silveira sai. Macabéa dirige-se a uma moça de cabelos oxigenados que trabalha de costas numa mesa em frente da dela. MACABÉA Glória, você me arruma uma aspirina? GLÓRIA (se vira, a personagem é feita por Regina) Por que é que você me pede tanta aspirina? Não estou reclamando, mas isso custa dinheiro. MACABÉA É para eu não me doer. GLÓRIA Como é que é? Hein? Você se dói? MACABÉA Eu me dôo o tempo todo. GLÓRIA Aonde? MACABÉA Dentro. Não sei explicar. Macabéa toma a pílula a seco. GLÓRIA Você fica tomando pílula sem água, um dia ela te cola na parede da garganta que nem galinha de pescoço meio cortado, correndo por aí. CENA 11 - ESTÚDIO Trechos de Regina passando esta mesma cena com as 4 moças, dando as deixas de Glória, dirigindo as Macabéas, as intruções de Regina vão obtendo tons variados, por exemplo: Sou um pouco fraca de estudo, seu Silveira. (se desculpando, envergonhada, ou protestando, irritada). Glória, você me arruma uma aspirina? (com vergonha por estar pedindo pela décima vez, ou como quem pede pela primeira vez. Eu me dôo o tempo todo (com simplicidade e ingenuidade ou mais coitadinha. Ou com certo orgulho.) Regina dá as várias falas de várias maneiras. CENA 12 - ESCRITÓRIO Outro dia. Macabéa agora representada por Moça 2. GLÓRIA Oh mulher, não tens cara? MACABÉA Tenho sim. É porque sou achatada do nariz, sou alagoana. GLÓRIA Me desculpe eu perguntar: ser feia dói? MACABÉA Nunca pensei nisso, acho que dói um pouquinho. Mas eu lhe pergunto se você que é feia sente dor. GLÓRIA Eu não sou feia! CENA 13 - LOJA DE DEPARTAMENTO As quatro moças e Glória numa loja de departamentos REGINA OFF Vez por outra Macabéa ia para a Zona Sul e ficava olhando as vitrines faiscantes de jóias e roupas acetinadas - só para se mortificar um pouco. É que ela sentia falta de encontrar-se consigo mesma e sofrer um pouco é um encontro. CENA 14 - DEPOIMENTOS MOÇA 3 Ouço galo cantar a vida na cidade, me lembro do sertão. MOÇA 4 Nunca recebi um presente. Nem carta... MOÇA 2 Às vezes eu sinto assim uma saudade do futuro. MOÇA 1 Nunca comi num restaurante. Só em pé, no balcão. CENA 15 - LOJA DE DEPARTAMENTOS Macabéa (Moça 3) e Glória na frente de uma balcão cheio de cosméticos. MACABÉA (comentando um cartaz com pote de creme hidratante) É tão bonito, chega dá vontade de comer. GLÓRIA Você é doida. Experimenta esse batom aqui. MACABÉA Não paga, não? GLÓRIA É amostra, pra pessoa ver se quer comprar. MACABÉA Querer eu quero, mas com que dinheiro? GLÓRIA (vai passando) Experimenta, criatura. CENA 16 - BOTEQUIM Macabéa está olhando seu reflexo num talher. Começa com reflexo do close de sua boca pintada com batom da loja. Quando abre o plano vemos que a personagem passou a ser representada pela Moça 4. Ela e Glória estão sentadas numa mesa GLÓRIA Está parecendo uma mulher de soldado. MACABÉA Eu sou doida por um soldado. Quando vejo um sinto um friozinho na barriga de medo de ele me matar. GLÓRIA Isso não é medo, é vontade. Garçon põe sanduíche pra Glória e cafezinho pra Macabéa. GLÓRIA Você faz regime pra emagrecer, é? MACABÉA Eu tenho enjôo pra comer. Quando eu era pequena descobri que tinha comido gato frito. CENA 17 - RUA DO CENTRO Sob a marquise de um grande prédio, Olímpico acompanha o caminhar de Macabéa por trás de uma série de colunas. As quatro moças se revezam no papel de Macabéa. Olímpico estranha, mas continua seguindo Macabéa. REGINA (OFF) Que se há de fazer com a verdade que todo mundo é um pouco triste e um pouco só Pergunto eu: conheceria ela do amor o seu adeus? Conheceria algum dia do amor os seus desmaios? A nordestina se perdia na multidão. Até que num desses finais de tarde encontrou a primeira espécie de namorado de sua vida, o coração batendo como se ela tivesse engolido um passarinho esvoaçante e preso. Olímpico corta o caminho de Macabéa (não vemos por qual das moças ela é representada) e fala: OLÍMPICO E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear? CENA 18 - SALA DE ENSAIO Regina, o ator que faz Olímpico e as moças estão no estúdio. REGINA (lendo) O rapaz e ela se olharam e se reconheceram como dois nordestinos, bicho da mesma espécie que se farejam. Regina e o ator vão dirigindo o ensaio com as moças. Montagem de algumas réplicas da cena a seguir, com as várias moças e algumas instruções de entonação (e/ou marca) dadas pela Regina e pelo ator. ATOR E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear? MOÇA 1 (feliz, respondendo imediatamente) Sim. MOÇA 2 (tímida) Sim. REGINA Assustada, com medo. MOÇA 3 (vacilante) Sim. ATOR Meu nome é Olímpico Jesus, e se me permite qual é mesmo a sua graça? MOÇA 4 Macabéa. Regina interrompe: "fala isso meio baixinho, com vergonha do nome, por isso que ele não entende direito". Sugere baixar um pouco a cabeça ao dizer o nome. A moça repete com a marca e a entonação, o ator faz ela levantar o olhar pegando no queixo e perguntando "Maca o que? " etc ATOR Maca o quê? MOÇA 4 Béa. MOÇA 1 (rindo) Eu não entendo o seu nome. Olímpico? MOÇA 2 (tímida) Eu não entendo o seu nome. Olímpico? MOÇA 3 (curiosa) Eu não entendo o seu nome. Olímpico? Regina conversa com as moças (as quatro "finalistas" e também as primeiras candidatas) sobre namoro, amor, etc. CENA 19 - RUA Voltamos a cena do encontro de Macabéa com Olímpico. A cena agora passa inteira mas trocando a cada réplica a atriz que faz Macabéa. OLÍMPICO E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear? MACABÉA (MOÇA 1) Sim. OLÍMPICO Meu nome é Olímpico Jesus, e se me permite qual é mesmo a sua graça? MACABÉA (MOÇA 2) (Baixando a cabeça) Macabéa. OLÍMPICO (levantando o queixo dela) Maca o quê? MACABÉA (MOÇA 3) Béa. OLÍMPICO Me desculpe mas até parece doença, doença de pele. MACABÉA (MOÇA 4) Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse. Pois como o senhor vê eu vinguei... Pois é... OLÍMPICO Também no Sertão da Paraíba promessa é questão de grande dívida de honra. MACABÉA (MOÇA 1) Eu não entendo o seu nome. Olímpico? OLÍMPICO Eu sei mas não quero dizer. MACABÉA (MOÇA 2) Não faz mal, não faz mal... A gente não precisa entender o nome. Eles passeiam pelas ruas (planos dele com cada moça sucessivamente, repetindo a mesma ação). REGINA (OFF) Ele a olhara enxugando o rosto molhado com as mãos. E a moça, bastou vê-lo para torna-lo imediatamente sua goiabada com queijo. Nesta tarde de dia sete o êxtase inesperado para seu tamanho pequeno corpo. CENA 20 - SALA DE ENSAIO REGINA (lendo) Maio, mês das borboletas noivas flutuando em brancos véus. Contarei agora a história da história". (Fecha o livro) A "história da história" é o romance de Macabéa com Olímpico. Aqui começa a história propriamente dita e chegou a hora de escolher qual de vocês vai passar a representar sozinha a Macabéa nessa história. Mas quem não for escolhida não vá ficar muito triste não, porque de toda maneira cada uma já é um pouco Macabéa, já viveu pedacinhos da história dela. FIM DO PRIMEIRO BLOCO SEGUNDO BLOCO CENA 21 - FEIRA DE SÃO CRISTÓVÃO Olga Borelli com Regina na feira de S. Cristóvão. REGINA A Olga Borelli era a secretária e também uma grande amiga da Clarice Lispector. OLGA Aos domingos nós saíamos, sem destino. Algumas vezes íamos à Floresta da Tijuca, outras ao zoológico, outras vínhamos aqui, na feira de São Cristóvão. Andávamos nas barracas, comíamos algum prato típico. Foi num desses dias que a Clarice começou a escrever A Hora da Estrela. Sentamos num banco, ela observando as pessoas... Câmera abandona Regina e Olga, passeia pelas mesas até encontrar Macabéa. (a atriz escolhida para o papel) OLGA (OFF) ... ela começou a fazer anotações e aí foi surgindo a Macabéa. CENA 21 - RUAS Olímpico e Macabéa passeando. REGINA (OFF) Da segunda vez que se encontraram caía uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem ao menos se darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrima escorrendo. Outro dia, os dois passeando. REGINA (OFF) Da terceira vez que se encontraram - pois não é que estava chovendo? OLÍMPICO Você só sabe mesmo é chover... MACABÉA Desculpe. CENA 22 - SALA DE ENSAIO Regina, o ator e a moça que faz Macabéa estão lendo o texto. REGINA (lendo) "Eles não sabiam como se passeia. Pararam diante da vitrine de uma loja de ferragem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e pregos. E Macabéa, com medo que o silêncio já significasse uma ruptura disse ao recém namorado": MOÇA Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor? Regina comenta a dificuldade de se arrumar assunto no início de um namoro. Para agradar o outro a pessoa quer dizer coisas originais mas como não sabe ainda o que o outro pensa tem medo que suas opiniões desagradem e passa a falar banalidades que não comprometam muito e a conversa fica sem graça. CENA 23 - RUA Os dois sentados num banco de praça. OLÍMPICO Pois é. MACABÉA Pois é o quê? OLÍMPICO Eu só disse pois é. MACABÉA Mas "pois é" o quê? OLÍMPICO Melhor mudar de conversa porque você não me entende. MACABÉA Entender o que? OLÍMPICO Santa Virgem, Macabéa, vamos mudar de assunto já! MACABÉA Falar então de que? OLÍMPICO Por exemplo, de você. MACABÉA Eu?! OLÍMPICO Por que esse espanto? Você não é gente? Gente fala de gente. MACABÉA Desculpe mas não acho que sou muito gente. OLÍMPICO Mas todo mundo é gente, meu Deus! MACABÉA É que não me habituei. OLÍMPICO Não se habituou com quê? MACABÉA Ah, não sei explicar. OLÍMPICO E então? MACABÉA Então o quê? OLÍMPICO Olhe, eu vou embora porque você é impossível! MACABÉA É que só sei ser impossível, não sei mais nada. Que é que eu faço para conseguir ser possível? OLÍMPICO Pare de falar porque você só diz besteira! Diga o que é do teu agrado. MACABÉA Acho que não sei dizer. OLÍMPICO Não sabe o que? MACABÉA Hein? OLÍMPICO Olhe, até estou suspirando de agonia. Vamos não falar em nada, está bem? MACABÉA Sim, está bem, como você quiser. OLÍMPICO É, você não tem solução. CENA 24 - QUARTO Macabéa liga e sintoniza o rádio LOCUTOR Rádio relógio, hora certa e cultura. Você sabia que o cavalo é o único animal que não cruza com filho? MACABÉA Isso é indecência, moço. LOCUTOR São 18 horas, dez minutos e trinta segundos. Você sabia que Lewis Carrol, autor do clássico "Alice no País das Maravilhas" foi também um grande Matemático, tendo formulado várias leis da álgebra? CENA 25 - RUA Os dois no banco de praça MACABÉA O que é álgebra? OLÍMPICO Saber disso é coisa de fresco... Desculpe a palavra de eu ter dito fresco porque isso é palavrão para moça direita. CENA 26 - QUARTO Macabéa ouvindo o rádio. LOCUTOR Rádio Relógio, hora certa e cultura. CENA 27 - RUA Os dois no banco de praça MACABÉA O que é cultura? OLÍMPICO Cultura é cultura. Você também vive me encostando na parede. MACABÉA É que muita coisa na Rádio relógio eu não entendo bem. OLÍMPICO Eu não preciso de hora certa porque tenho relógio. MACABÉA Sabe que na minha rua tem um galo que canta? OLÍMPICO Por que é que você mente tanto? MACABÉA É verdade. OLÍMPICO Pois não acredito. MACABÉA Juro. Quero ver minha mãe cair morta se não é verdade. OLÍMPICO Mas sua mãe já não morreu? MACABÉA É mesmo. OLÍMPICO Você está fingindo que é idiota ou é idiota mesmo? MACABÉA Não sei bem o que sou. OLÍMPICO Olhe Macabéa... MACABÉA Olhe o que? OLÍMPICO Não meu Deus, não é olhe de ver é olhe como quando se quer que uma pessoa escute. Está me escutando MACABÉA Tou, Tudinho. OLÍMPICO Tudinho o que, meu Deus, se eu ainda não falei! Pois olhe, vou lhe pagar um café no botequim. Quer? MACABÉA Pode ser pingado com leite? OLÍMPICO Pode, é o mesmo preço, se for mais o resto você paga. MACABÉA Você telefona um dia pra mim lá no escritório? OLÍMPICO Telefonar pra ouvir tuas besteiras? MACABÉA O telefone do escritório só chama Glória e seu Silveira. OLÍMPICO Quem é Glória? CENA 28 - SALA DE ENSAIOS Regina e Moças. REGINA A Glória é quase o contrário da Macabéa. (lendo): "Glória possuía no sangue um bom vinho português e também era amaneirada no bamboleio do caminhar por causa do sangue africano escondido. CENA 29 - DOCUMENTÁRIO Meninas de subúrbio, referências de Glória, produzidas, andando na rua, no cabeleireiro. REGINA (OFF) Apesar de branca tinha em si a força da mulatice. Oxigenava em amarelo-ovo os cabelos crespos cujas raízes estavam sempre pretas. Tinha uma pintinha marcada junto da boca, só para dar uma gostosura, e um buço forte que ela oxigenava. Sua boca era loura. Parecia até um bigode. Oxigenava os pêlos das pernas cabeludas e das axilas que ela não raspava." CENA 30 - SALA DE ENSAIO Regina conversa com as meninas, as quatro finalistas e as primeiras candidatas sobre oxigenar cabelo, papo de cabelereiro, vaidade etc. Pergunta pras meninas se elas acham o jeito dela, Regina, parecido com Glória. Processo de escolha do figurino: pagode, funk, surfista, tendências novas de moda no subúrbio. (pesquisar) REGINA (voltando a ler no livro) "Glória era toda contente consigo mesma. Dava-se grande valor. Era uma safadinha esperta mas tinha força de coração! Penalizava-se com Macabéa mas ela que se arranjasse, quem mandava ser tola? Tinha o traseiro alegre e fumava cigarro mentolado para manter um hálito bom. O fato de ser carioca tornava-a pertencente ao ambicionado clã do sul do país. Glória era um estardalhaço de existir". MACABÉA (lendo) O telefone do escritório só chama Glória e seu Silveira. OLÍMPICO (lendo) Quem é Glória? CENA 31 - ESCRITÓRIO - RUA Telefone toca no escritório, Macabéa olha esperançosa, mão de Glória atende. GLÓRIA Sou eu, quem é? Olímpico no orelhão OLÍMPICO Olímpico Jesus para servi-la. Obtive informações de sua pessoa por intermédio de uma amiga. GLÓRIA Sei, e daí? OLÍMPICO E daí que se me permite a senhorinha, gostaria de lhe convidar a passear. GLÓRIA A troco? OLÍMPICO Simpatia. GLÓRIA Sem me conhecer? OLÍMPICO Imagine conhecendo. GLÓRIA E quem lhe disse que eu quero lhe conhecer? OLÍMPICO Como é que você sabe que não quer me conhecer se você não me conhece? GLÓRIA Posso não ir com sua cara. OLÍMPICO A senhorinha pode olhar agora mesmo uma fotografia minha. GLÓRIA Por que, você saiu no jornal? OLÍMPICO Não, mas sua colega aí do escritório tem uma foto minha na carteira. GLÓRIA Então vocês estão namorando! OLÍMPICO Ela que pensa, coitada. Você acha que alguém vai namorar Macabéa? CENA 32 - CABINE AUTOMÁTICA DE FOTOS 3x4 Aqueles flashs de fotografia 3x4 no rosto de Glória. A tirinha de fotos saindo, mão de Glória pegando. CENA 33 - ESCRITÓRIO Detalhe daquela tirinha de fotos 3x4 sendo de Glória sendo cortada por uma tesoura. Glória pega uma foto. GLÓRIA Maca, você acha que eu sou sua amiga? MACABÉA Acho. Muito. GLÓRIA Pois eu fiz essa foto pra você. Macabéa sorri, estende a mão. Glória se adianta e pega a bolsa dela. GLÓRIA Deixa eu botar na sua carteira. Glória abre a carteira e vê a foto de Olímpico. GLÓRIA Você, hein?! Diz que é minha amiga mas nem pra me contar que está de namorado! Glória põe sua foto do lado da foto de Olímpico. CENA 34 - CABINE AUTOMÁTICA DE FOTOS 3x4 Aqueles flashs de fotografia 3x4 no rosto de Olímpico e Glória juntos. Numa delas Glória levanta de brincadeira, deixando só os peitos em quadro ao lado do close de Olímpico. A tirinha de fotos saindo, mão de Olímpico pegando. OLÍMPICO Glória e Olímpico, o nome da gente é cheio de grandezas. GLÓRIA Você trabalha? OLÍMPICO Sou metalúrgico, graças a Deus. Glória toma da mão dele e tira a foto em que aparecem seus peitos. GLÓRIA Essa aqui você não vai levar não, meu filho. OLÍMPICO Não precisa. A cara é mais importante do que o corpo porque a cara mostra o que a pessoa está sentindo. GLÓRIA Você com esse jeitinho sério de Paraíba é muito do enrolão, sabia? OLÍMPICO Eu? GLÓRIA Você, mesmo. Parece deputado nordestino prometendo acabar com a seca. OLÍMPICO O que é que eu fiz? GLÓRIA Nada, santinho do pau oco. Você não sabe que Macabéa é doida por você? OLÍMPICO Glória, tudo quem faz é o destino. Foi o destino que botou você no meu caminho. GLÓRIA E quem botou sua mão na minha coxa? CENA 35 - CABINE DE FOTOS Aqueles flashs de fotografia 3x4 no rosto de Macabéa toda arrumadinha. A tirinha de fotos saindo, mão de Macabéa pegando. CENA 36 - RUA MACABÉA (entregando a foto pra Olímpico) Toma. É colorida. OLÍMPICO (olhando) Não sei pra quÊ! Você tem cor de suja. MACABÉA Gostou não? OLÍMPICO Boazinha. Vou guardar como lembrança de nossa amizade. MACABÉA Ontem eu ouvi no rádio uma música linda. OLÍMPICO Era samba? MACABÉA Acho que era. Chamava-se "Uma Furtiva Lacrima". Não sei por que eles não disseram "lágrima". A voz era tão macia que até doía ouvir. Até me deu vontade de chorar. OLÍMPICO E por que não chorou de uma vez? MACABÉA Não vinha lágrima. Nunca que chorei direito. OLÍMPICO É, deste mato não sai coelho. MACABÉA Como é que atriz de novela faz pra chorar? OLÍMPICO Pra que você quer saber? Você não tem rosto nem corpo pra ser atriz. CENA 37 - QUARTO DA PENSÃO Macabéa, na frente de um espelho, examina o rosto e o corpo. O rádio toca "Una Furtiva Lácrima" (som ruim). REGINA (OFF) "Uma Furtiva Lacrima" fora a única coisa belíssima na sua vida. Quando ouviu teve vontade de chorar. Não por causa da vida que levava: porque, não tendo conhecido outros modos de viver, aceitava que com ela era "assim". CENA 38 - SALA DE ENSAIO Regina lendo. REGINA Acho que teve vontade de chorar porque, através da música, adivinhava talvez que havia outros modos de sentir, havia existências mais delicadas e até com um certo luxo de alma". Regina diz que na cena seguinte a atriz vai ter que chorar. Ela consegue? Falam sobre isso. CENA 39 - DEPOIMENTOS Atrizes e atores explicam sua "técnica" de chorar. Usam colírio, choram de verdade? CENA 40 - PARQUE Olímpico e Macabéa no parque. MACABÉA Você sabe se a gente pode comprar um buraco? OLÍMPICO Olhe, você não reparou até agora, não desconfiou, que você só faz pergunta sem resposta? MACABÉA Cuidado com suas preocupações, dizem que dá ferida no estômago. OLÍMPICO Preocupação coisa nenhuma, pois eu sei no certo que eu vou vencer. MACABÉA Não será somente visão? OLÍMPICO Vá para o inferno, você só sabe desconfiar. Eu só não digo palavrões grossos porque você é moça donzela. MACABÉA Desculpe. OLÍMPICO Você tem sempre essa cara de quem comeu e não gostou, não aprecio cara triste, vê se muda de expressão. MACABÉA Não sei como se faz outra cara. Mas é só na cara que sou triste, por dentro sou até alegre. É tão bom viver, não é? OLÍMPICO Claro! Mas viver é coisa de privilegiado. Eu sou um e você me vê magro e pequeno mas sou forte, eu com um braço posso levantar você do chão. Quer ver? MACABÉA Não, não, os outros vão maldar! OLÍMPICO Magricela esquisita ninguém olha. Olímpico e Macabéa ficam de pé. Ele a segura pela cintura e a ergue no ar. Ela abre os braços. Ele a gira no ar. MACABÉA Deve ser assim viajar de avião! Ele se desequilibra e ela cai. Ela se ergue rapidamente. MACABÉA Não se incomode, foi uma queda pequena. Ela ergue a saia para limpar o nariz, sangrando. MACABÉA Você não olhe enquanto eu estiver me limpando, por favor, porque é proibido levantar a saia. Sentam. Ele fica emburrado. MACABÉA Eu vou ter saudade de mim quando morrer. OLÍMPICO Besteira, morre-se e morre-se de uma vez. MACABÉA Não foi o que a minha tia me ensinou. OLÍMPICO A tua tia que se dane. MACABÉA Você sabia que a mosca voa tão depressa que se voasse em linha reta ela ia passar pelo mundo todo em 28 dias? OLÍMPICO Isso é mentira! MACABÉA Juro pela minha alma pura que aprendi isso na rádio relógio. OLÍMPICO Você não vai entender mas eu vou lhe dizer uma coisa: não vou gastar mais nada com você, está bem? MACABÉA Está bem. OLÍMPICO Você, Macabéa, é um cabelo na sopa. Não dá vontade de comer. Pausa. Começa a tocar "Una Furtiva Lácrima". OLÍMPICO Você está ofendida? MACABÉA Não, não, não. OLÍMPICO Me desculpe se eu lhe ofendi. MACABÉA Ah, por favor, quero ir embora. OLÍMPICO Eu sou sincero. MACABÉA Por favor, me diga logo adeus. OLÍMPICO Então adeus. Ele sai. Toca uma Furtiva Lacrima. Macabéa chora. Closes de atrizes chorando. (pesquisa) CENA 41 - ESCRITÓRIO Macabéa comendo um lanche no escritório. Macabéa está triste, Glória oferece um sanduíche. GLÓRIA Come mais um pouco, você não come nada? MACABÉA Às vezes eu como sanduíche de mortadela. GLÓRIA Você bebe leite? MACABÉA Só café e refrigerante. Pausa. GLÓRIA Olímpico é meu, mas na certa você arranja outro namorado. Eu digo que ele é meu porque foi o que minha cartomante me disse. Eu não quero desobedecer porque ela é médium e nunca erra. Por que você não paga uma consulta e pede para ela te por as cartas? MACABÉA É muito caro? CENA 42 - SALA DE ENSAIO Regina e as meninas falam sobre cartomantes. CENA 43 - DOCUMENTÁRIO Pesquisa sobre "trago seu amor de volta em 3 dias". CENA 44 - CARTOMANTE Casa da Cartomante. Semelhante à Cena 1, mas agora a câmera acompanha Macabéa. CARTOMANTE O meu guia já tinha me avisado que você vinha me ver, minha queridinha. Como é mesmo o seu nome? MACABÉA Macabéa. CARTOMANTE É muito lindo. Entre, meu benzinho. Aceita um cafezinho, minha florzinha? Não tenha medo de mim, sua coisinha engraçadinha. Porque quem está ao meu lado está ao mesmo tempo ao lado de Jesus. Eu sou fã de Jesus. Sou doidinha por ele. Ele sempre me ajudou. Corte. CENA 45 - RUA Macabéa sai da casa da Cartomante, feliz da vida. Caminha pela calçada. CARTOMANTE (OFF) Sua vida vai mudar completamente! E digo mais: vai mudar a partir do momento em que você sair da minha casa! Você vai se sentir outra. Fique sabendo, minha florzinha, que até o seu namorado vai voltar e propor casamento, ele está arrependido! E seu chefe vai lhe avisar que pensou melhor e não vai mais lhe despedir! Você conhece algum estrangeiro? Vê, do outro lado da rua, um GRINGO, loiro e de olhos azuis, caminhando na direção dela. CARTOMANTE (OFF) Ele é alourado e tem os olhos azuis ou verdes. E se não fosse porque você gosta de seu ex-namorado, esse gringo ia namorar você. Se não me engano, e nunca me engano, ele vai lhe dar muito amor e você, minha enjeitadinha, você vai se vestir com veludo e cetim e até casaco de pele vai ganhar. Faz tempo que não boto cartas tão boas. Ela vai atravessar a rua. Um carro se aproxima. Ela põe o pé no meio da rua. REGINA (OFF) Corta! Plano geral revelando bastidores da gravação. REGINA Cena do atropelamento, cadê o dublê? Dublê, homem vestido com o mesmo figurino de Macabéa, se aproxima botando a peruca. REGINA (para Macabéa) Pode sentar para descansar um pouco. Quer uma água? Macabéa senta, pega uma água. O Gringo senta ao seu lado, sorri para Macabéa. Ela sorri, um pouco constrangida. REGINA (ao fundo) Aparece o Gringo na cena? Cadê o Gringo? OLÍMPICO Estão chamando você lá. O Gringo levanta e sai para fazer a cena. Olímpico senta na cadeira ao lado de Macabéa. OLÍMPICO E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear? MACABÉA Sim. Macabéa e Olímpico levantam-se, saem caminhando, câmera acompanha. MACABÉA Eu sabia que você ia voltar. A cartomante me disse e ela não erra nunca. OLÍMPICO E ela me disse se eu vou ser deputado e se o mundo inteiro vai saber de mim? MACABÉA Não. OLÍMPICO Pois eu estou lhe dizendo. Você não acredita? MACABÉA Acredito sim. Eu não quero lhe ofender. MACABÉA E a Glória? OLÍMPICO Ela usa muita água de colônia. E pinta o cabelo. E me deu um fora. MACABÉA Você sabia que o imperador Carlos Magno era chamado de "Carolus"? Ao fundo, a equipe e o dublê fazem a cena do atropelamento. FIM ***************************************************************** (c) Jorge Furtado e Guel Arraes, 2003 Casa de Cinema de Porto Alegre, TV Globo http://www.casacinepoa.com.br