Alô Rosane de Oliveira
Leio diariamente sua página em ZH, pela qualidade e equilíbrio do jornalismo que ali encontro, e por isso estranhei a nota principal de hoje ("Não estávamos protegidos?"). Me pareceu uma análise, pra dizer o mínimo, feita com má-vontade sobre a atuação do presidente Lula e do ministro Mantega.
Você abre a coluna com uma afirmação: "Vá o cidadão brasileiro entender o comportamento das autoridades". Sou um cidadão brasileiro e, neste caso, entendo perfeitamente o comportamento das autoridades. Acompanho diariamente o noticiário político e econômico e nunca vi, ouvi ou li o presidente ou qualquer um dos seus ministros afirmarem, como você diz, que "a crise nos Estados Unidos não nos afeta". Lula disse isso? Quando? Onde? Por favor, cite a fonte.
Ao contrário, li e ouvi o presidente e os ministros mais de uma vez afirmarem o óbvio, que uma crise na maior economia do planeta afeta a todos, mas que o Brasil hoje - por seu crescente mercado interno e suas boas reservas – é menos vulnerável à crise do que foi no passado. E é verdade. Ou não? Lula pode ter exagerado ao dizer que os efeitos da crise aqui seriam "imperceptíveis", mas tranqüilizar a população (e também o mercado) é uma das obrigações das autoridades. Ou não?
Também exageram os que pregam o fim do mundo com o estouro de uma bolha especulativa que, como sempre, enriqueceu alguns espertos e agora cobra a conta de todos. Capitalistas do lucro e socialistas do prejuízo, agora exigem um estado forte, capaz ao menos de salvar-lhes os dedos. Arautos do deus mercado, elogiam o governo americano pela rápida ação de salvar especuladores que brincaram de pirâmide ("Passe esta hipoteca micada adiante para três instituições a sua escolha. Uma financeira quebrou a corrente e..."). Não tão depressa, garotos. Não é fácil convencer um republicano médio da América profunda, caipira careta trabalhador e religioso, a tirar 2 mil dólares do próprio bolso - conta do pacotão, por cabeça - para dar prum executivo de Wall Street gastar numa garrafa de Veuve Clicquot.
Vi na televisão o Lula respondendo, de passagem por uma dezena de jornalistas que perguntavam sobre a crise, a frase que acabou nos jornais do mundo inteiro: "Crise? Pergunte ao Bush!". Disso concluir que o presidente teria afirmado, como você disse, que "a crise nos Estados Unidos não nos afeta" é fazer piruetas com a lógica.
Você pede a alguém do governo que explique o que aconteceria se o Brasil não estivesse "blindado". Não sou do governo mas tento ajudar: aconteceria o que aconteceu no governo FHC, quando o país quebrou três vezes em crises incomparavelmente menores que esta, e precisava correr ao FMI cada vez que uma economia periférica - México, Rússia, Coréia – balançava. Lembre-se que o auxílio camarada do Banco Central ao Marka e ao Fontecindam (que acabou levando alguns para a cadeia) tinha como objetivo alegado salvar nosso sistema financeiro de um devastador efeito dominó, imagine. A primeira vez que eu ouvi falar dos bancos Marka e Fontecindam foi quando me disseram que sem eles o país não sobreviveria.
Baseada em sua própria afirmação de que Lula e Mantega teriam dito que "a crise nos Estados Unidos não nos afeta" você sobe um degrau na crítica e os acusa de "muita ingenuidade" por "pensar que com a globalização um país pode escapar de um terremoto como esse só porque seu presidente é um crítico da especulação". Duvido que você realmente acredite que Lula ou Mantega pensem assim. O fato do presidente fazer críticas a especulação é bom ou ruim? Quem defende a especulação?
Lula, que hoje atinge 80% de aprovação nas pesquisas de opinião, já foi acusado de assassinato (na tv, ao vivo, com as chamas do avião da TAM ao fundo), de espionar ministros e senadores (no primeiro grampo a favor e sem áudio da história), de comprar dossiês com malas de dinheiro (de onde veio o dinheiro do dossiê?), de deixar as traças comerem um genuíno Picasso exposto nos corredores do INSS (onde foi parar o Picasso do INSS?), de espalhar pelo Brasil a febre amarela (provocando uma insensata corrida às vacinações que acabou matando algumas pessoas), de ter um parente sócio de Daniel Dantas (que ele não teve, mas José Serra sim), de ter comandado o "mensalão" (método de financiamento de campanha criado por Marcos Valério e pelo presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, e adotado pelo PT), de ter ficado refém do gás boliviano (idéia do governo do PSDB), do apagão de energia que não houve (mas houve no governo do PSDB), de aumentar os juros que ele mesmo diminuiu (e que aumentaram no governo do PSDB), de não negar com a veemência necessária a hipótese de que talvez quem sabe sonhasse mudar a constituição em benefício próprio para ficar mais tempo no poder (exatamente aquilo que o PSDB fez). Lucia Hipólito culpou Lula, no rádio, pelo mau desempenho da seleção de Dunga. Era, portanto, de se esperar que Lula fosse acusado também pelo cassino irresponsável de Wall Street e pelas cretinices de Bush e sua quadrilha. Mas não por você.
Desculpe o desabafo de um admirador e leitor diário. Se eu estiver enganado, se Lula ou Mantega disseram mesmo que "a crise nos Estados Unidos não nos afeta", indique a fonte e desconsidere este e-mail.
Um abraço,
Jorge Furtado
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Por falar em não entender o comportamento de autoridades...
Republicando:
Escrevo no dia 04/09/2008, 13:45. Daniel Dantas continua solto, Nelson Jobim segue ministro, Gilmar Mendes só sai em 2010. A suposta gravação – o primeiro grampo a favor da história da espionagem - supostamente feita por um suposto agente da Abin supostamente sem o conhecimento dos interlocutores, senador Demóstenes (DEM) e ministro Gilmar (STJ), e supostamente entregue a uma revista supostamente jornalística, ainda não apareceu.
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A ordem das coisas.
Filósofo alemão (1844 – 1900), autor de "Humano, demasiado humano" e "Gaia ciência", FRIEDRICH...
a. NIETCZSHE b. NIETCSZHE c. NIETSCZHE d. NIETSZCHE e. NIETZCSHE f. NIETZSCHE
Resposta:
A resposta certa é a F. Não que isso tenha alguma importância para compreender sua obra, mas para não ter que ir até a biblioteca ou entrar no Google cada vez que você precisa escrever NIETZSCHE – isso me acontece muito - lembre-se que o Z, o S e o C aparecem no INVERSO DA ORDEM ALFABÉTICA.