O blog do Josias de Souza na Folha de São Paulo (http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/ 03:38 - 08/08/08) informou que "uma carta ameaçadora" foi enviada ao ministro Gilmar Mendes, contendo um pó que "exalava um cheiro que, por insuportável, levou ao esvaziamento de todo o terceiro andar do tribunal, onde fica a sala de Gilmar."
Para o leitor comum (eu) "o esvaziamento de todo o terceiro andar" do mais importante tribunal do país é notícia séria, capaz de merecer edições extraordinárias nos telejornais em qualquer lugar do mundo. Esperei pela noite para ver as imagens, que certamente existiriam, da evacuação do prédio.
O mesmo blog informa, 18 horas depois (21:39 - 08/08/08), que o tal pó era lactose. E acha "curioso" o comportamento de - agora sabemos - sua única fonte:
"Curioso que um funcionário do gabinete de Gilmar Mendes tenha relatado à polícia que o tal pó exalava cheiro forte, insuportável."
Houve a evacuação do andar? Mais alguém sentiu o cheiro insuportável? Um funcionário público que diz ter declarado à polícia um possível atentado contra o terceiro homem na linha sucessória do país, é uma questão insignificante? O funcionário mentiu à polícia? Ou mentiu ao jornalista? Com que interesse? Isso não é notícia? Ninguém mais falará sobre isso a partir de agora?
Jorge Luis Borges afirmava não ler jornais. "Não acontecem coisas transcendentes todos os dias". E, quando acontecem, só ficamos sabendo muito tempo depois. Acontece que, para que possa ser vendido todo dia, o velho jornalismo resolveu produzir notícias diariamente, exista algo a ser noticiado ou não.
Feito por profissionais sentados em seus escritórios, com pouco ou nenhum contato com a vida real que não seja pela internet, por telefone, pela televisão ou por recados que recebem de suas curiosas fontes e sem perder tempo em verificar se aquilo que narram como fato realmente aconteceu mas com tempo de sobra para fazer interpretações, insinuações e piadinhas - tudo isso que nós, não-jornalistas, também podemos fazer - o jornalismo está se tornando irrelevante. Perdi meu tempo - que poderia ter sido gasto vendo um bom filme, lendo um bom livro, ouvindo boa música - lendo mau jornalismo. Ainda bem que foi de graça! Se tivesse que pagar, pedia meu dinheiro de volta.
E, por falar nisso, quem escreveu (e quem leu e onde leu) a palavra "uiscão" no dossiê do "uiscão"? E de onde veio o dinheiro do dossiê dos aloprados petistas? E o dinheiro dos aloprados dantescos, veio de onde? E, afinal, quem quebrou o sigilo bancário de Freud Godoy? E onde anda o "Picasso do INSS"?
A todas as perguntas que a imprensa gritou nos meus ouvidos e depois esqueceu e deixou sem resposta, soma-se agora mais uma: o que provocou o cheiro insuportável no gabinete do supremo ministro Gilmar Mendes?
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Piada velha, nova versão:
Diz que uma capivara chegou numa banca, pediu um jornal, pagou e começou a ler, tudo isso sob o olhar incrédulo do dono da banca, pasmado.
- O que foi? - perguntou a capivara.
- Desculpe, mas é que eu nunca tinha visto uma capivara lendo jornal - disse o dono da banca.
- E com esse jornalismo que andam fazendo - disse a capivara - tão cedo não vai ver de novo!