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Ao trabalho

Falar em prosa é coisa corriqueira

Mato que acha até quem não procura

Poesia é flor que nasce noutra beira

E onde floresce põe, na precisão, loucura.

Caros atores, amigos, cara equipe

Lá vamos nós então, mais um trabalho

Espero que nenhum de nós se gripe

Espero poucos cortes, nenhum talho

O sentido, como sempre, é a mistureba

Bocaccio e o Bardo, versos raros, grosserias

Um naco de chanchada, da ópera uma reba

Piadas, trocadilhos, patuscadas, ironias

Espero mourejar tal qual um mouro

Espero não achar ninguém xarope

Espero gargalhadas, algum choro

Espero, sobretudo, um bom ibope

Teremos algum sexo, é verdade

Mas só de faz de conta, respeitoso

O filme é pra agradar qualquer idade

Ou então o que dirá o Pedro Cardoso?

Espero, como sempre, o inesperado

A cor do fim da tarde, visitas de animais

O eco de uma frase, um som dobrado

Um corvo na janela e nada mais.

Que todos se divirtam e cumpram cronogramas

Decorem bem as falas, com atenção e zelo

Cuidem dos figurinos, vão cedo pras suas camas

E, por favor, não me falem de cabelo!

Não cheguem atrasados nas filmagens

Não deixem bagas fora dos cinzeiros

Não digam aos locais muitas bobagens

Mantenham-se casados ou solteiros

Da poesia o cinema é bom marido

A chama da palavra numa tela

A luz que aquece a casa do sentido

O i que se transforma numa vela

No fim, o filme, vez em quando arte

Tela que grava o brilho de um instante

O circo mal chegou e logo parte

Se for paixão, que seja fulminante.

18.10.08

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