Ana: Depois de uma longa pesquisa de cidades e locações, definimos que o filme ia ser realizado no interior. Para mim isso era importante porque traria veracidade ao filme. Convidamos a Patrícia Faria, que faz um trabalho lindo, para observar os jovens numa escola e escolher os que participariam das oficinas de preparação de elenco com a Ângela Gonzaga e a Mirna Spritzer, em Taquara. Fomos absorvendo elementos deles durante as oficinas para colocar no filme. Apesar de eu ter crescido no interior – e no roteiro tem muita coisa da minha vivência – a vida desses meninos foi fundamental para que o roteiro e o filme tivessem uma verdade.
No elenco, temos meninos de Taquara, Rodeio Bonito, Igrejinha, Viamão, Canoas. Apenas um é de Porto Alegre, o Pedro [Tergolina, o Daniel], que já havia feito um curta comigo. Ele é o protagonista de Dona Cristina Perdeu a Memória. Acho que foi o primeiro trabalho dele em cinema. É um menino muito talentoso e eu apostava nele como parte desse grupo. Depois de testes com muita gente, selecionamos 30, dos quais escolhemos os 15 que formariam a classe que aparece no filme. O Pedro ficou entre esses 15 e depois de um tempo chegamos à conclusão de que ele seria o protagonista. A convivência destes meninos durante todo o período de oficina foi fundamental para o filme, e deu ao Pedro a vivência de interior.
A irmã foi nesse mesmo processo. A Carol [Caroline Guedes, que faz a Maria Clara] foi a primeira que testamos para o papel. Ela foi perfeita, mas não dava para ficar na primeira. Fizemos muitos testes depois e sempre voltávamos para ela. Foi uma escolha muito feliz. Ela dá um charme especial ao filme.
Mirna Spritzer (Preparadora de Elenco): Preparar os atores jovens de Antes que o mundo acabe foi um desafio. Precisávamos deixá-los disponíveis para o trabalho, conectá-los com as situações e fazê-los cúmplices, em especial o trio de protagonistas. Ao mesmo tempo, ao trabalhar com jovens, era nosso desejo conservar a vida, a autenticidade das reações que eles apresentavam nos ensaios e oficinas. Assim, preparamos “despreparando”, ou seja, abrindo espaços para que eles se reconhecessem nos personagens, encontrassem a veracidade das circunstâncias que o roteiro propunha, discutissem e combinassem entre si, como num jogo, as melhores estratégias.
Contamos com o acerto das escolhas do elenco e com a sua disponibilidade. Também a clareza da direção em relação ao tom desejado para o filme. Queríamos todos, direção e preparadoras, jovens que ainda tivessem em seus corpos as marcas da infância e a revelação dos seus desejos. E que isto fosse apresentado sem efeitos, sem macetes, mas sim que os atores pudessem encontrar em si estas possibilidades e aprendessem a guardá-las e reservá-las vivas para a gravação. Acredito que o resultado nos faz muito gratificados.
Ana: Na escolha dos atores adultos, a primeira exigência é que fossem bons atores. No cinema, não há tanto tempo para ensaiar como no teatro, não caberia no nosso orçamento. Desde o roteiro, eu já pensava nestes atores. Já tinha trabalhado com a Janaina [Kremer, Elaine], mas com o Edu [Moreira, Daniel-pai] e o Murilo [Grossi, Antônio] não. E foi bárbaro. O Edu é do Grupo Galpão, que tem um trabalho no teatro que eu admiro muito. Todos têm uma vivência profissional enorme, mas não são atores que estão na mídia todo dia.