Jorge Furtado

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Carta aberta à Presidente Dilma Rousseff

Cara presidente Dilma:

Sou seu eleitor e grande admirador. Espero que a senhora continue fazendo um bom governo, aprofunde e avance as conquistas do governo Lula, combata a pobreza e siga trabalhando para diminuir as terríveis desigualdades sociais brasileiras. Crescendo com justiça social, liberdade e democracia, o Brasil se tornou um país respeitado pelo mundo. Hoje, nossa opinião conta, nossa voz é ouvida.

Escrevo para lhe falar de justiça, de democracia e também de cinema. Eu não sei se a senhora conhece o trabalho do cineasta iraniano Mohsen Makhmalbaf. Ele tem uma história parecida com a sua: lutou corajosamente contra uma ditadura em seu país e por isso foi preso. Quando a ditadura terminou, ele emprestou seu talento para a construção da liberdade. Quando puder, veja um de seus grandes filmes, "Um instante de inocência", onde ele conta parte desta luta. Se aqui no Brasil esta história acabou bem e hoje vivemos numa democracia, no Irã a luta pela liberdade está bem longe de um final feliz.

Nos últimos meses, o governo iraniano mandou para a prisão mais de 50 cineastas. Outros 150 estão sendo ameaçados e perseguidos. O cineasta Jafar Panahi está preso. Uma bomba foi colocada no set de filmagem da cineasta Samira Makhmalbaf, filha de Mohsen, um técnico morreu. Ameaçados de morte, Makhmalbaf e sua filha tiveram que deixar seu país, vivem escondidos e seus familiares no Irã são perseguidos e ameaçados de morte. A produtora Katayoun Shahabi, que é casada e tem dois filhos, está na solitária de uma prisão iraniana, incomunicável. A atriz Marzieh Vafahmer foi presa e condenada a 90 chicotadas por participar de um filme.

Só os ingênuos ou os que torcem para que tudo dê errado esperam ou imaginam que o Brasil rompa relações com o Irã. Não devemos agir como inimigos, ao contrário: devemos agir como os melhores amigos, que nos olham nos olhos e apontam nossos erros. É fundamental, urgente, que o Brasil faça ouvir sua voz nas Nações Unidas e peça pela liberdade dos cineastas iranianos. É inaceitável que um país que quer ser tratado com respeito pela comunidade internacional mande seus cineastas, escritores e jornalistas para a prisão.

O povo do Irã ama o Brasil. Tenho a certeza que o respeito pela democracia e pela justiça sempre guiará os passos do seu governo. Espero que a voz do Brasil se faça ouvir, pedindo liberdade para os cineastas iranianos.

Um grande abraço

Jorge Furtado

São Paulo, 02.10.11
 
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Atualizado em 7.11.11
 
 
Cineastas pedem que governo brasileiro defenda colegas iranianos
 
RODRIGO RUSSO
COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS
 
Em manifesto dirigido ao governo brasileiro, um grupo de 26 cineastas, produtores e atores internacionais pede que o país, nas próximas reuniões da Assembleia Geral da ONU, defenda os direitos de cineastas, jornalistas e professores universitários bahá'is presos no Irã e peça sua imediata soltura.
 
Entre os signatários estão os cineastas Atom Egoyan, Beto Brant, Daniela Thomas, Frederic Boyer, Guido Chiesa, Hector Babenco, Jorge Furtado, Lais Bodanzky, Lucia Murat, Mohsen Makhmalbaf e Walter Salles. O diretor teatral Antunes Filho e Renata de Almeida, diretora da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, também assinam o documento em inglês, intitulado "Manifesto em apoio aos cineastas, produtores, jornalistas e professores universitários encarcerados no Irã" e obtido com exclusividade pela Folha.
 
Nele, os signatários também mencionam a urgente necessidade de a República Islâmica do Irã respeitar, como condição para assinatura de quaisquer acordos bilaterais com o Brasil, práticas básicas de direitos humanos.
 
O manifesto foi costurado a partir da visita ao Brasil do cineasta iraniano Mohsen Makhmalbaf, que deixou o Irã após sofrer ameaças de morte, e de sua amizade com Walter Salles. Makhmalbaf já havia criticado na segunda-feira, durante conferência do ciclo Fronteiras do Pensamento em Porto Alegre, a proximidade do governo Lula com o regime de Ahmadinejad.
 
O cineasta Jorge Furtado, que nesta semana publicou em seu blog uma carta aberta à presidente Dilma Rousseff com pedido semelhante, foi o responsável pela organização do documento e da adesão de novos signatários.
 
No texto em seu blog, Furtado se declarou admirador e eleitor de Dilma e comparou a trajetória do cineasta iraniano à da presidente: "Ele tem uma história parecida com a sua: lutou corajosamente contra uma ditadura em seu país e por isso foi preso. Quando a ditadura terminou, ele emprestou seu talento para a construção da liberdade (...) Se aqui no Brasil esta história acabou bem e hoje vivemos numa democracia, no Irã a luta pela liberdade está bem longe de um final feliz".
 
 

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1001917-cineastas-pedem-que-governo-brasileiro-defenda-colegas-iranianos.shtml