Jorge Furtado

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Enciclopédia dos Quadrinhos

Ótima notícia: acaba de ser lançada pela L&PM a nova “Enciclopédia dos quadrinhos”, do Goida e do André Kleinert, muito ampliada e atualizada. São mais de 500 páginas com o que há de melhor na história dos quadrinhos no Brasil e no mundo. O livro tem muitas e boas ilustrações, bibliografia e referências, incluindo sites, e ainda uma pequena história da história em quadrinhos, do Goida. É um daqueles livros fundamentais, que para de pé na estante e ao qual sempre voltamos. Presente de Natal perfeito para pais e filhos espertos.
 
Enciclopédia dos Quadrinhos, no site da L&PM:
http://www.lpm.com.br/site/default.asp?Template=../livros/layout_produto...

 

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Os quadrinhos vão muito bem, obrigado. São tantos os bons lançamentos que fica difícil escrever sobre eles, há que se encontrar tempo para lê-los. Enquanto as indústrias da notícia, da música e do audiovisual travam uma luta inglória contra a internet, os livros - especialmente os livros bonitos e com boas ilustrações - aumentam sua vendas: nada como o papel para ler ou apreciar bons desenhos.
 
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Outras sugestões de grandes quadrinhos para você ler nas férias ou dar de presente de Natal.
Logicomix, de Apostolos Doxiadis e Christos Papadimitriou, arte de Alecos Papadados e Annmie di Donna. Editora Martins Fontes.
Um dos melhores quadrinhos que eu já li, categoria obra-prima. A vida de Bertrand Russel, a história da matemática e a criação dos princípios da justiça e da democracia através da Orestéia, de Ésquilo, tudo isso com grande habilidade e humor, numa narrativa envolvente. Eu sei, parece difícil de acreditar, mas a mistura faz todo sentido. Leia, é imperdível.
 
Jimmy Corrigan, o garoto mais esperto do mundo, de Chris Ware. Editora Quadrinhos da Companhia.
Considerado por muita gente boa como a melhor de todas as novelas gráficas, desde sempre. Jimmy Corrigan é um personagem comovente, o narrador de uma saga familiar de três gerações. Além do romance notável, o livro é uma extraordinária peça gráfica.
 
Crônicas birmanesas, Shenzhen e Pyongyang, os três de Guy Delisle, pela editora Zarabatana.
Delisle faz jornalismo em quadrinhos com um desenho leve e texto bem humorado, mesmo contando, com grande realismo, sua experiência em alguns dos lugares menos divertidos no planeta: a Birmânia (Myanmar), a Coréia do Norte e a China. Para você conhecer lugares tristes sem precisar ir lá e dar mais valor à democracia.
 
Fernando Pessoa e outros pessoas, de Guazzelli, com roteiro de Davi Fazzolari sobre poemas de Fernando Pessoa. Editora Saraiva.
Guazzelli desenha muito, é um mestre. Suas variações de técnica e estilo, o vigor e a precisão do seu traço, a originalidade de suas composições, servem de parceiro ideal aos poemas de Fernando Pessoa neste passeio pelas ruas de Lisboa. 
 
500 Essential Graphic Novels, de Gene Kannember Jnr. Ilex press.
Ótimo guia, dividido por gêneros: aventura, não-ficção, crime e mistério, fantasia, ficção, horror, ficção científica, super-heróis e guerra. Com índice por escritor, artista gráfico e título, e indicação de faixa etária. Muitas ilustrações e boa seleção. Você pode discordar de algumas escolhas ou do destaque maior ou menor aos seus quadrinhos preferidos, mas o que há de melhor está lá. 
 
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Reproduzo aqui parte de um texto que escrevi (no século passado) sobre quadrinhos:
Aviso que não sou nem de longe um conhecedor do assunto. Sei o nome de bem pouca gente e detesto a maioria dos novos gibis que estão nas bancas, quase todos envolvendo heroínas modelo barbie (peitudas de cintura fina) enfiadas em roupas colantes de borracha, saltando de nada para lugar nenhum enquanto disparam armas ridículas e dizem coisas que eu nem cheguei a ler mas aposto que são bobagem. Me interesso pelos quadrinhos pelo mesmo motivo que me interesso por cinema, literatura, artes plásticas ou qualquer forma de expressão dos nossos medos e desejos: o prazer de entrar em contato com o que os seres humanos tem de melhor e me sentir menos estranho numa terra estranha.
Quadrinhos só são tratados como arte de segunda categoria por quem: a) não teve a sorte ou a curiosidade intelectual de conhecê-los; b) ao conhecê-los, não teve a sensibilidade ou paciência para distingui-los; c) é ignorante mesmo. Para quem não gosta e se enquadra nas categorias a ou b, sugiro a leitura de "Desvendando os Quadrinhos", de Scott McCloud, um estudo ainda mais abrangente que o clássico "Quadrinhos e Arte Sequencial", do Will Eisner. É um curso completo, melhor que a maioria dos livros sobre cinema que eu conheço.  McCloud analisa com perfeição o nascimento simultâneo da representação pictórica e da palavra escrita no teto das cavernas. Imagem e palavra nasceram juntas, representando um homem, um boi ou uma arma de caça. Lentamente o ícone se afasta da imagem que o gerou e o homenzinho vira a letra T ou A, e o boizinho vira Mu e logo ninguém lembra mais porque e surgem as escolas de alfabetização. Pobre do Ivo, vê a uva mas não sabe como se escreve.
Cinema e quadrinhos são formas de expressão muito semelhantes, pelo uso simultâneo de imagens e palavras. (Na manipulação de ritmos e no fazer sentir o passar do tempo, cinema se parece mais com música. E na construção dramática, com o teatro.) Detesto usar a palavra arte, mais gasta que corrimão de asilo, para definir qualquer coisa, mas partindo da definição de Gombrich de que "não há arte, só há artistas", acho que há cada vez mais arte nos quadrinhos e menos no cinema. O cinema é cada vez mais (sempre foi) uma forma de expressão coletiva. O cinema é cada vez mais (nem sempre foi) um negócio. O artista raramente convive bem com as dezenas de filtros que a indústria coloca entre intenção e gesto. Seria impossível para Robert Crumb sobreviver a uma série de reuniões com agentes, produtores e patrocinadores para fazer seu primeiro filme. Bem mais fácil para ele foi abrir um caderno e riscar com um lápis. Que depois tenha virado capa de disco da Janis Joplin ou freqüentasse milhares de pára-lamas dos caminhões americanos foi conseqüência do seu talento, óbvio até para o pior dos fariseus.
Texto integral publicado no “Não” em 12.06.1999:
http://www.nao-til.com.br/nao-63/imagens.htm
 
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Outros textos sobre quadrinhos:
Sobre Jimmy Corrigan – O menino mais esperto do mundo, de Chris Ware:
http://vilamundo.org.br/2010/11/jorge-furtado-indica-a-hq-jimmy-corrigan/
 
Sobre Fun Home, relato autobiográfico escrito e desenhado por Alison Bechdel:
http://www.casacinepoa.com.br/o-blog/jorge-furtado/fun-home-o-melhor-fil...
 
Sobre Maus, de Art Spiegelman e Gen (pronuncia-se "guem"), de Keiji Nakazawa:
http://www.nao-til.com.br/nao-62/mausegen.htm