Jorge Furtado

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Fora Feliciano!

Não pratico nenhuma religião nem sou, nem nunca fui, filiado a qualquer partido político, falo só por mim mesmo. Sou a favor da religião, a favor da política e contra padres ou pastores políticos, acho que ou bem se cuida das coisas da fé ou bem se cuida da política, não dá para misturar. Não sei de padres católicos, nem de rabinos, nem de pastores anglicanos, nem de monges budistas que sejam deputados federais, e isso depõe fortemente a favor de suas crenças e religiões.
 
Acho que o estado deve ser laico e a atuação do executivo, do legislativo e do judiciário deve seguir preceitos racionais, práticos, científicos, legais, constitucionais. É totalmente inaceitável que funcionários públicos ajam ou se pronunciem, supostamente de acordo com suas crenças religiosas, discriminando mulheres, homossexuais, negros ou religiões diferentes da sua.
 
Feliciano, em sua burra intolerância, não representa o povo brasileiro, nem sua maioria religiosa, nem os evangélicos. Feliciano representa apenas uma pequena parcela da sociedade, a direita fundamentalista mais tacanha, preconceituosa e ignorante a ponto torcer leituras equivocadas de más traduções da Bíblia e ainda chamar a África de país, isso enquanto emprega meia dúzia de parentes-pastores-assessores que não passam nem perto do seu local de trabalho, sempre com o nosso dinheiro.
 
Que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal tenha ido parar na mão de Feliciano é um destes absurdos que o sistema político brasileiro engendra, como os suplentes de senadores e o caixa dois de campanha. Um reforma política é mais que urgente, mas os mesmos que gritam contra a roubalheira ou os descalabros são os que, na hora de votar a reforma, não querem mudar nada. Longe dos holofotes, parece que para eles assim como está, está ótimo.
 
Feliciano era um ilustre desconhecido com 200 mil votos, agora é um tosco famoso, provavelmente terá o dobro de votos na próxima eleição. Quando o moralismo substitui a política, logo a fama e a infâmia tornam-se iguais e a intolerância toma o lugar da razão.
 
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Para quem ainda não conhece o Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, aqui vai:
 
Marco Feliciano: "Deus matou John Lennon".
 
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=VMpYWvGvMZg
 
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Atualizado em 16.04.13
 
 
Novo texto de Caetano em seu blog, excelente, concordo 100%.
 
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Ainda Feliciano?
 
 Nem estou acreditando que volto ao assunto do pastor/deputado/presidente da CDHM. Mas, como muitos devem ter visto, ele mentiu reiterada e estridentemente sobre mim. Há um vídeo no YouTube em que Feliciano, esbravejando de modo descontrolado, diz-se com Deus contra o diabo e, para provar isso, mente e mente mais. As pessoas religiosas deveriam observar o quanto ele está dominado pela soberba. Faz pouco, ele se sentiu no direito de julgar os vivos e os mortos, explicando por meio de uma teologia grotesca a morte dos garotos dos Mamonas e sagrando-se justiçador de John Lennon. Agora, aferra-se à mentira. Meu colega Wanderlino Nogueira notava, com ironia histórica sobre as espertezas da igreja católica, que a mentira não está entre os sete pecados capitais. Mas sabemos que “levantar falso testemunho” é condenado pelo Deus de Moisés. Por que mentir tão descaradamente sobre fatos conhecidos? Será que minha calma observação, aqui neste espaço, de que sua persona pública é inadequada ao cargo para o qual foi escolhido (matizada pela esperança no papel das igrejas evangélicas) o ameaça tão fortemente? Eu diria a pastores, padres, rabinos ou imãs — sem falar em pais de santo e médiuns espíritas, que são diretamente agredidos por ele — que atentassem para o comportamento de Feliciano: como pode falar em nome de Deus quem mente com tão evidente consciência de que está mentindo?
 
Sim, porque não há, dentre aqueles que prestam atenção no meu trabalho, quem não saiba que, ao cantar a genial canção de Peninha “Sozinho” num show, eu indefectivelmente dizia não apenas que me apaixonara por ela através das gravações de Sandra de Sá e de Tim Maia: eu afirmava que cantá-la ao violão era só um modo de chamar a atenção para aquelas gravações. Como pode Feliciano dizer que “a imprensa foi rastrear” e descobriu que a música já tinha sido gravada por Sandra e Tim? Essas duas gravações eram sucessos radiofônicos. E como pode ele, sem piedade daqueles que com tanta confiança o ouvem em seu templo, afirmar que eu disse em entrevista coisa que nunca disse e nunca diria, ou seja, que o êxito inesperado de minha versão de “Sozinho” se deveu a eu ter mostrado a faixa a Mãe Menininha e esta ter-lhe posto uma bênção que, para Feliciano, seria trabalho do diabo? Mãe Menininha, figura importante da história cultural brasileira, já tinha morrido fazia cerca de dez anos quando gravei a canção.
 
É muita loucura demais. E muita desonestidade. Aprendi com meu pai os gestos da honestidade — e tomei o ensinamento de modo radical. Me enoja ver a improbidade. Feliciano sabe que eu nunca dei tal entrevista. Mas não se peja de impressionar seus ouvintes gritando que eu o fiz. Ele, no entanto, não sabe que eu jamais sequer mostrei qualquer canção minha à famosa ialorixá. Nem a Nossa Senhora da Purificação eu peço sucesso na carreira. Nunca pedi. Nem a Deus, nem aos deuses, e muito menos ao diabo. Decepciono muitos amigos por não ser religioso. Mas respeito cada vez mais as religiões. Vejo mesmo no cristianismo algo fundamental do mundo moderno, algo inescapável, que é pano de fundo de nossas vidas. Mas não sou ligado a nenhuma instituição religiosa. Eu me dirigiria aqui àqueles que o são. Os homens crentes devem tomar atitude mais séria em relação a episódios como esse. O que menos desejo é ver o Brasil dividido por uma polaridade idiota, em que, de um lado, se unem os que querem avanços nos costumes, e de outro, os que necessitam fundamentos de fé, ambos gritando mais do que o conveniente, e alguns, como Feliciano, saindo dos limites do respeito humano. Eu preferiria dialogar com crentes honestos (ou ao menos lúcidos). Não aqueles que já se põem a uma distância segura da onda neopentecostal. Eu gostaria de dialogar com um Silas Malafaia, de quem tanto discordo, mas que respeita regras da retórica e da lógica. Marina Silva seria ideal, mas poupemo-la. Não é preocupante, eu perguntaria a alguém assim, que um dos seus minta de modo tão escancarado? É fácil provar que nunca fiz aquelas declarações e é fácil provar que Sandra e Tim tiveram êxito com a obra-prima de Peninha. E que eu louvei esse êxito ao cantar a canção. Foram dezenas de milhares de brasileiros que ouviram. Se Feliciano precisa, para afirmar sua postura religiosa, criar uma caricatura caluniosa dos baianos e da Bahia, algo é muito frágil em sua fé. A maré montante do evangelismo não dá direito à soberba irrefreada. O boneco tem pés de barro. E cairá. Eu creio na justiça e na verdade. Esses valores atribuídos a Deus têm minha adesão irrestrita. Não sei que Deus sustenta a injustiça e a mentira. Ou será que é aí que o diabo está?
 
Caetano Veloso
 
http://www.caetanoveloso.com.br/blog_post.php?post_id=1397
 
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Atualizado em 3.05.13
 
 
Respeito a religião e as crenças de todo mundo, espero que respeitem a minha: sou ateu. 

 
 
Sempre gostei de estudar as religiões, uma fonte inesgotável de sabedoria, poesia, arte, solidariedade, história (e também de desavenças, guerras, intolerância). Leio a Bíblia sempre que posso, um livro em tudo extraordinário, e admiro a figura e as palavras de Jesus Cristo tanto quanto as de Sócrates, Buda, Montaigne e Shakespeare.
 
 

Mesmo sendo ateu, o uso que o pastor Feliciano faz da Bíblia e das palavras de Cristo me ofende profundamente. É um inaceitável desrespeito que ele use a fé cristã, que prega o amor ao próximo, a compaixão, a piedade, a tolerância, para justificar seus atos de desamor, crueldade, impiedade, intolerância.

 
 
A fé de Feliciano, se ela que ele tem alguma, é uma tristeza.

 
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Fernando Pessoa, em Da permanência e impermanência das obras literárias:
 
 

Uma forma de grandeza.
 
Há apenas dois tipos de estado de espírito constante em que a vida vale ser vivida -  a nobre alegria de uma religião ou a nobre tristeza de ter perdido uma. O resto é vegetação e apenas uma botânica psicológica pode interessar-se por uma humanidade tão diluída.
 
 
Fernando Pessoa, Obras em prosa, Editora Nova Aguilar, pág. 474.