Jorge Furtado

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Pelo estado laico.

Sei que o assunto é incomodação certa, mas só agora fiquei sabendo disso e não consigo ficar quieto. O uso do plenário da Câmara Federal pela deputada Lauriete (PSC-ES) para cantar um hino religioso, com direito a playback e coro dos deputados presentes, foi o momento mais deprimente da história do Congresso Nacional. E olha que a concorrência é dura. 
 

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Nem quando o senador de Brasília chorou, garantindo não ter violado o painel do plenário, nem quando a deputada paulista dançou no plenário comemorando mais uma corrupção terminar em pizza, nem quando o deputado que enriqueceu jurou ter ganho mais de mil vezes na loteria, nem quando o Roberto Jefferson, de olho roxo, disse ter sido vítima da queda da gaveta de um armário, nem quando ACM, Maluf e Jader diziam barbaridades impublicáveis, nem quando Severino Cavalcanti, o cacique Juruna ou o Agnaldo Timóteo aprontavam suas presepadas, senti tanta vergonha de ser representado por estes políticos.
 
O uso da tribuna do Congresso Nacional para cantar qualquer coisa é um desrespeito e, se já não é, deveria ser proibido pelo regimento interno da casa. O uso da tribuna do Congresso Nacional para cantar hinos religiosos é totalmente inaceitável. A deputada deveria ser, no mínimo, advertida por grave quebra do decoro parlamentar.
 
A constituição brasileira garante a liberdade religiosa, mas o estado laico é condição mínima para uma democracia moderna. Teocracias são estados primitivos, onde preconceitos e neuroses coletivas se impõe sobre os mais básicos direitos humanos, onde delírios místicos corrompem a ciência e o bom senso.
 
Pensava-se que a mistura de religião e política havia sido superada com a revolução francesa. Não foi, governos fundamentalistas continuam apedrejando e mutilando mulheres, oprimindo homossexuais e minorias religiosas pelo mundo todo, pregando a guerra santa e o assassinato de infiéis.
 
A idéia de que a fé – um inalienável direito íntimo – sirva de parâmetro para reger a vida pública do país deve ser combatida a qualquer custo. Ou, quem sabe, possamos aceitar leis que proíbam certos cortes de cabelo, transfusões de sangue, consumo de carne de porco, o uso de elevadores aos sábados, consumo de bebidas alcoolicas e o sexo antes do casamento, como pregam diferentes igrejas e crenças?
 
Os brasileiros de bom senso precisam ter coragem de enfrentar o oportunismo religioso. A hipocrisia religiosa, que quer impedir mulheres de interromper a gestação de um filho sem cérebro, que quer impedir cientistas de fazer as pesquisas que podem salvar vidas e recuperar tetraplégicos, que impõe humilhação e sofrimento às minorias, deve ser combatida publicamente, com vigor.
 
Dizem que política e religião não se discutem, que é melhor não falar nisso. Pois eu acho que quando política e religião se misturam, silenciar é ser cúmplice. Cúmplice do obscurantismo que detém o progresso científico, da mistificação oportunista e lucrativa dos que enriquecem explorando a dor dos mais humildes, do preconceito tacanho contra as minorias, cúmplice da ignorância e da mediocridade.
 
Pelo direito à fé e pelo estado laico. 
 
xx
 
 
Aqui, Lauriete na Wikipedia:
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lauriete
 
 
Lauriete foi casada por 20 anos com o político e pastor capixaba Reginaldo Almeida, que não concorreu nas últimas eleições, deixando espaço para sua esposa.
 
“Reginaldo teria desistido da disputa por estar na lista de condenados do Tribunal de Contas da União. (...) De acordo com a nova lei da inelegibilidade, popularmente conhecida como Lei Ficha Limpa, pessoas com alguma condenação em turma colegiada não poderão participar das eleições deste ano. Reginaldo Almeida foi condenado em 2003 pelo Tribunal de Contas da União junto com o então prefeito de Vila Velha Jorge Anders e o ex-vereador José de Oliveira Camilo por irregularidades em contratos firmados na prefeitura. Na época, Almeida era presidente da Sociedade Comunitária de Habitação Popular de Vila Velha que teria recebido dinheiro irregular proveniente do Executivo municipal. Ele foi condenado a ressarcir os cofres públicos na quantia de R$ 3,1 mil a época. Mesmo não tendo o nome registrado na Justiça Eleitoral para a disputa, Reginaldo Almeida não ficará longe da campanha eleitoral. O deputado estadual vai estar nos bastidores da campanha da mulher dele, a cantora gospel Lauriete (PSC), que é candidata a deputada federal.”
 
http://www.capixabao.com/v3/noticia/3306/politica/eleicoesreginaldo-alme...