Jorge Furtado

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Quem atirou em Rodrigo?

Um jovem brasileiro de 18 anos que exercitava o seu dever cívico de fazer política foi baleado, levou dois tiros, com balas de verdade, disparados – ao que tudo indica e há muito que indique – por policiais.  Este crime deveria ser a capa de todos os jornais brasileiros, seria a capa de qualquer jornal americano, francês, alemão, inglês, se a polícia nativa disparasse tiros com balas de verdade contra manifestantes em defesa da educação, de melhores salários para os professores públicos.
 
No castelo da antiquíssima imprensa brasileira, as balas, que podiam ter matado um jovem manifestante, vieram em letras miúdas, nas páginas internas, a manchete é o “quebra-quebra”, o "vandalismo". Na matéria da televisão, o comentarista conclui, no dia em que um jovem levou dois tiros, que “um novo patamar” foi atingido nas manifestações: queimou-se um carro da polícia.
 
Quem atirou em Rodrigo Azoubel? Já foi identificado? Será punido?
 
 

 

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Quanto vale sua palavra?
 
A antiquíssima (tenho saudade do trema) imprensa brasileira se afasta tão rapidamente do seu público que pode se tornar irrelevante. Já é (já era), para uma geração inteira, que simplesmente lhe ignora, sabe de tudo pela internet.
Preste atenção no título, no endereço da matéria: “jovem que diz ter sido baleado”. A vocação nacional para a comédia é um fato. Como é que alguém poderia mentir ao dizer ter sido baleado?
 
- Levei dois tiros, ontem.
 
- Onde?
 
- Na esquina da Riachuelo com a Borges.
 
- Não, estou falando onde, em que parte do corpo?
 
- Por que você quer saber isso?
 
- Bem, você diz que levou dois tiros. Os tiros acertaram em você?
 
- Sim.
 
- Onde?
 
- Por que você quer saber isso?
 
- Para saber se você está dizendo a verdade.
 
- Você não confia na minha palavra?
 
 
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Atualizado em 29.10.13:
 
A notícia mais recente que encontrei é do dia 16. 
 
O que está sendo feito para descobrir e punir quem atirou em Rodrigo?
 
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Policiais procuraram ativista baleado, afirma advogado
 
Extraído de: Jornal de Brasilia   Outubro 16, 2013 
 
Baleado nos dois braços nesta terça-feira, 15, à noite durante a manifestação no centro do Rio, Rodrigo Gonçalves Azoubel, de 18 anos, foi procurado na madrugada desta quarta-feira ,16, por policiais da Corregedoria da Policia Militar (PM) na Clínica São Vicente, onde está internado, afirmou o advogado Marcelo Chalréo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio.
 
"A família afirmou que policiais da corregedoria estiveram aqui de madrugada e a informação que circula entre funcionários do hospital é que a corregedoria esteve aqui, sim. O objetivo claro era recolher o projétil", afirmou. "O recolhimento do projétil, se ele existisse, dificultaria qualquer investigação. É um indício grave. O que querem ocultar? Por que estiveram aqui antes da Polícia Civil?"
 
Chalréo esteve na manhã desta quarta-feira com Azoubel e os parentes dele na clínica particular da Gávea, na zona sul, acompanhado do delegado da 15ª Delegacia de Polícia (DP), Orlando Zaccone, e do advogado da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Thomaz Ramos.
 
Azoubel foi baleado por volta de 20h30 na Rua Santa Luzia, no centro. De acordo com informações preliminares, o tiro atravessou os dois braços. O manifestante foi operado e não corre risco de morrer. "Ele não soube informar de onde veio o disparo. Disse que não ouviu sequer barulho, sentiu uma dormência no braço e teve atendimento de voluntários. Sem esses primeiros-socorros prestados por estudantes de medicina ainda no local, ele poderia estar morto, segundo informações que recebemos no hospital", afirmou o Zaccone.
 
"Aparentemente, foi um tiro de pequena distância. Fotos dos ferimentos indicam a presença de pólvora", disse o advogado da Comissão de Direitos Humanos da OAB do Rio. "Só a investigação poderá dizer o que ocorreu. Mas quem participa de manifestações não pode ser tratado à bala", acrescentou.
 
Fonte: Agencia Estado
http://www.ecofinancas.com/noticias/policiais-procuraram-ativista-balead...
 
 
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Atualizado em 7 de novembro.
 
 
O jornalismo existirá enquanto houver jornalistas. Janio de Freitas, na Folha de hoje, volta ao assunto.
 
 
07/11/2013 - 03h30
 
Em meio ao tumulto
 
Os momentos mais graves das violências que se seguiram às passeatas estão sob uma nebulosidade espessa. Ou assim se encobre o que a Polícia Civil e a PM já sabem a respeito, ou se encobre a falta de ação das duas polícias para saber, a respeito, o legalmente indispensável.
 
Desde junho, todos os tumultos que se seguiram às passeatas incluíram ferros, pedras, paus e fogo, mas tiros só apareceram no dia 15 de outubro. Na Cinelândia carioca.
 
Às 8h30 da noite, um rapaz teve os dois braços atingidos por dois ou pelo mesmo tiro, não chegou a perceber. Rodrigo Lacerda, estudante de 18 anos, estava com um amigo em um grupo que, no extremo do tumulto já bastante violento, apedrejava um ônibus da PM aparentemente vazio. Socorristas voluntários lhe deram o primeiro atendimento e mais tarde foi levado para uma clínica particular, onde passou pela primeira cirurgia. Já precisou de outras duas.
 
Não foi identificado pelo rapaz, nem pelos circunstantes próximos, o lugar de origem dos tiros. Outros tiros deram oportunidade a um registro também posto sob a nebulosidade. Em suas imagens do tumulto, a Globo e a GloboNews exibiram a ação de dois homens que se revezavam no disparo de pistolas, e recuavam, escondendo-se, depois do tiro. Estavam junto às paredes de uma esquina.
 
As imagens foram exibidas quase como um flash, com locução apenas descritiva do já evidente. Nenhuma referência à localização, conhecida, é claro, por quem testemunhou e gravou os atiradores.
 
A entrada de Rodrigo na clínica foi seguida, com poucas horas de intervalo, de três levas de PMs, ao menos duas delas de oficiais do chamado serviço reservado. Não seria por acaso. Como não foi outra presença policial, na manhã seguinte: a do delegado Orlando Zaccone, da 15ª DP, na Gávea. Ou seja, não o delegado da área onde se deu o crime, como seria normal, mas o da região da clínica onde Rodrigo estava.
 
É típico do jornalismo brasileiro o desacompanhamento de fatos que ainda se desenrolam, ou mal começaram. Seja por tal tipicidade antijornalística ou por outra influência, os tiros na Cinelândia e o ocorrido a Rodrigo Lacerda ficaram só na notícia inicial, dada mínima e precariamente. A cena dos atiradores não suscitou outra exibição, com os merecidos questionamentos. O delegado Orlando Zaccone, que antes fizera o desmentido da morte do pobre Amarildo por bandidos, foi transferido há pouco da prestigiosa Gávea para o distante subúrbio de Ricardo de Albuquerque, sem dar sequer sinal público de alguma providência sobre o caso que o levou a procurar Rodrigo.
 
Um incidente banal na Cinelândia, portanto. Mas tiros que acertam braços são tiros dirigidos ao tronco. Tentativa de homicídio. Mais um qualquer, outra bala a esmo?
 
Tentaram fazer uma morte em meio à movimentação popular. E isso não foi à toa e é muito grave. Não é incidente para se perder no silêncio e no esquecimento.
 
Janio de Freitas, na Folha.
 
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2013/11/1367936-em-m...
 
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George Galloway, respondendo a um estudante de Oxford, que lhe fez uma longa pergunta, recheada de clichês exaustivamente repetidos pela imprensa:
 
“É uma desgraça que você sinta que possa dizer estas coisas com tão pouco conhecimento dos fatos reais. “
 
 
O vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=--QjwodEcOk
 
 
Sobre George Galloway:
 
http://en.wikipedia.org/wiki/George_Galloway