Jorge Furtado
Há momentos divertidos nas tentativas da oposição ao governo federal – a situação em Goiás - de defender Carlinhos Cachoeira e banda.
O país descobre – graças ao trabalho da Polícia Federal – que o líder dos Democratas no Senado, o relator do projeto da “Ficha Limpa”, o paladino da moral e dos bons costumes, alçado ao posto de mosqueteiro da ética no Congresso Nacional, não passava de sócio minoritário de uma quadrilha de bandidos, recebendo ordens diretas do chefe da gangue, que lhe tratava com algum desdém.
Agora, a parte divertida: como o braço midiático da quadrilha reage a esta descoberta?
Trazendo para as manchetes e capas a palavra “mensalão”.
É a primeira vez que eu vejo a imprensa lutando bravamente CONTRA a instalação de uma CPI. Se é que uma CPI pode ser boa para alguém, é boa para a imprensa, que precisa de novidades para vender jornais e garantir a audiência. Então, por que a imprensa foi tão contra esta CPI?
Veja se me acompanha (isto é um pouco complicado, dependendo da época, do estado e da folha): a base de apoio do governo federal protocolou o pedido de CPI. A imprensa diz que foi a mando de Lula, que Dilma e seu governo não queriam. O PT, partido de Dilma, defende a CPI. A imprensa diz que Dilma e o seu governo ficaram furiosos. A imprensa repete mil vezes que CPI “se sabe como começa, etc...”, que a CPI é uma tentativa de vingança de Lula e vai prejudicar o governo Dilma. Com fontes seguras no Planalto, a imprensa diz que o PT voltou atrás e agora quer atrasar a CPI. O PT garante as assinaturas para instalar a CPI. O que diz a imprensa?
“Palácio do Planalto aborta tentativa de atrasar investigações no Congresso”
Vocês eu não sei, mas eu achei a idéia de “abortar uma tentativa” um tanto confusa.
“Ele abortou várias vezes a tentativa de trabalhar. Ou seja, é um deitado!”.
“Desculpe, mas abortei a tentativa de comprar sua revista, fica para a próxima!”.
“Eu abortei a tentativa de parar de fumar. Tem fogo?”.
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Menos divertido, ao contrário, como momentos comoventes, o esforço de colegas de profissão – bons jornalistas – de alertar o distinto público sobre o que há de vir na CPI, mais detalhes sobre a relação de maus jornalistas com o crime organizado.
Uma coisa é ouvir um bandido sobre o crime, avisando ao leitor que a informação foi dada por um bandido, isso todos fazem e devem, precisam fazer.
Outra, muito diferente, é ser sócio do bandido, publicando o que ele quer, quando quer, sobre quem quer, anos a fio, e sem contar para ninguém que ele é um bandido, com interesse direto, financeiro, na publicação daquilo que ele chama de “reportagem investigativa”.
O modus operandi da quadrilha é simples e fica muito claro pelo que já se conhece das investigações. Na maior parte das vezes, se trata de arapongagem, grampos e gravações ilegais onde o bandido oferece suborno (o que é crime) ou, sabendo que está sendo gravado e seu interlocutor não, envolve a vítima (desonesta ou não) em conversas cabeludas que, bem editadas, podem destruir reputações. De posse destas gravações e com acesso direto às manchetes, a quadrilha arma suas chantagens, ameaçando adversários e desafetos, cobrando para publicar ou não publicar informações.
Segundo a decisão da Justiça que mandou o “empresário de jogos” Carlos Ramos temporariamente para o xilindró, “detectou-se ainda, nas investigações, os estreitos contatos da quadrilha com alguns jornalistas para a divulgação de conteúdo capaz de favorecer os interesses do crime”.
Alguns não são todos, embora um indisfarçável espírito de classe possa fazer pensar que sim.
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É tanta roubalheira que a gente chega a esquecer a da semana passada. Acho que não faz um mês que o Fantástico mostrou imagens chocantes de bandidos oferecendo suborno para hospitais públicos. O que está acontecendo com aquela investigação? Alguma notícia, em algum lugar?
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1679161-15605,00.html
Aquelas pessoas foram filmadas, gravadas em alto e bom som, roubando dinheiro de hospitais públicos, um deles um hospital de oncologia, que atende pacientes com câncer, pelo SUS. Ladrões de hospitais são assassinos covardes, filhos da puta que matam aleatoriamente mulheres, crianças e velhos. Eles vão devolver o dinheiro que roubaram? Vão para a cadeia? Quando? E por quanto tempo?