Jorge Furtado
O delegado da polícia federal Victor Hugo Rodrigues Alves Ferreira, que avisou seus superiores da tentativa de suborno feita por Hugo Chicaroni e Humberto Braz (diretor corporativo da Brasil Telecom na época de Dantas), recebeu parte do dinheiro e gravou tudo. Recebido o dinheiro, estava configurada a corrupção ativa, o crime de suborno. O restante do dinheiro prometido foi encontrado, em busca autorizada pela justiça, na casa de um dos subornadores, mais de 1 milhão de reais. Um juiz federal decretou a prisão, executada pelo delegado federal Protógenes Queiroz. Hugo Chicaroni foi preso (e continua preso, 12:06, 12/07/08) e Humberto Braz está foragido.
O objetivo do suborno oferecido pelos emissários de Dantas, conforme foi amplamente documentado pelos policiais, era interferir diretamente na investigação que apurava vários crimes contra o sistema financeiro e o patrimônio público, isto é, o nosso dinheiro. Dantas é apontado como o chefe de uma quadrilha que cometeu longa série de crimes. Mesmo assim, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, instado a decidir o caso sozinho - já que seus pares gozam, como os nossos filhos na escola, de férias em julho - e tomado de pressa e eficiência inédita, passou muitos minutos redigindo as vinte páginas em defesa da soltura imediata dos acusados, proclamando a "desnecessidade" de manter presos os subornadores - que tentavam interferir nas investigações retirando delas o nome dos seus chefes - uma vez que, segundo o supremo juiz, não há risco deles, em liberdade, interferirem nas investigações. Decerto eles agora, depois de uma noite dormida em colchão de espuma de baixa densidade, aprenderam uma boa lição! Deve ser isso.
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Já delegado Edmilson Pereira Bruno que, a mando do procurador Mario Lucio Avelar, prendeu os aloprados petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha num hotel em São Paulo, bem a tempo de estampar as manchetes nas vésperas do primeiro turno das últimas eleições presidenciais, deu voz de prisão aos dois acusando-os do crime de... De que mesmo?
Para quem não lembra (alguém ainda lembra?) Valdebran e Gedimar estavam num hotel, com uma mala de dinheiro, 1,75 milhão. Levar dinheiro em malas e se hospedar em hotéis não é crime algum. "Provavelmente boa coisa eles não iam fazer" é o óbvio, mas não está incluído no código penal. Atitude suspeita não é crime. O delegado Edmilson não esperou que o crime acontecesse - a eleição, infelizmente, não podia ser adiada - e, portanto, não teve como provar que um crime aconteceria. Gedimar e Valdebran ficaram presos alguns dias, outros aloprados foram detidos e soltos mas, tendo ido a eleição para o segundo turno e tendo Geraldo Alkmin vestido uma jaqueta horrorosa com os logotipos de várias estatais e anunciado que venderia o avião presidencial para com, o dinheiro, construir um hospital, a eleição do Lula tornou-se inevitável.
Onde andam os aloprados petistas? A que velocidade - considerando o padrão Gilmar Mendes - caminha a justiça no caso? Para onde foi o dinheiro do dossiê?
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Se tivesse vencido a eleição em primeiro turno com 50,1% dos votos, como quase aconteceu, Lula provavelmente não seria mais o presidente, teria sido empichado na primeira tapioca. Como foi ao segundo turno e venceu com quase 70% dos votos, salvou-se, graças, talvez, à diligência excessiva do delegado Bruno e do procurador Avelar, e a alopração de uns e outros.
Os aloprados de Dantas foram bem mais longe, pagaram parte da grana, foram filmados, cometeram (mais) um crime, isso todo mundo já entendeu. O que está em jogo agora é abrir a caixa-preta (ou o hard-disc, ou a boca) de Daniel Dantas, cria de ACM, filho adotado dos privatas tucanos, dos mensaleiros (mineiros e petistas), fonte e patrono de, ora veja, muitas opiniões desinteressadas nas melhores bancadas e folhas da praça, isto é, de muita gente. Pela pressa com que o STF o atende, calcula-se o tamanho do rolo.
Adendo em 15/07/08, 9 horas e 19 minutos:
Hugo Chicaroni, que estava foragido, entregou-se à Policia Federal no domingo.
Para entender o que está acontecendo:
Terra Magazine, por Bob Fernandes