Jorge Furtado

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Quem financia a baixaria?

O comentário ao qual você está respondendo não existe.

Reproduzo, com autorização do autor, o texto de Wagner Moura publicado no jornal O Globo sobre o assédio cretino que as pessoas conhecidas sofrem da mídia. Não sei a qual programa o Wagner se refere, baixaria na tevê é o que não falta. Um dia desses, zapeando, assisti por alguns minutos um programa, não sei qual é a emissora, onde um pobre sujeito de dentes tortos imitando o Silvio Santos - sim, ainda há imitadores do Silvio Santos, ainda há quem assista e quem patrocine imitadores do Silvio Santos - e um travesti que dizia imitar a Marta Suplicy tentavam entrevistar a ministra, que teve a dignidade de passar pelos tais sem falar e sem reagir.

O programa é feito por espertalhões para abobados e nisso não haveria problema algum, a segmentação de público é uma tendência natural da mídia, caso não envolvessem pessoas reais naquilo. Imagino que possam, uma vez por semestre, fazer alguma coisa que desperte riso, o que não justifica de maneira alguma a indignidade que produzem diariamente.

Por uma tevê melhor

Quem assiste e quem patrocina este tipo de televisão é culpado pela sua existência e deveria sentir vergonha. A televisão sempre teve programas de baixo nível, o que é tolerável quando os envolvidos, atores, estão recebendo para pagar mico. Vira caso de polícia quando pessoas reais, involuntariamente, são humilhadas por estes parasitas.

Além de não assistir e não divulgar este tipo de programa, de não comprar produtos que anunciem neste tipo de programa, todas as pessoas que têm sua imagem veiculada e que não deram para isso sua autorização expressa, por escrito, devem processar a emissora que os exibe. A única maneira de dificultar a tarefa de quem ganha a vida com sua canalhice é fazer com que percam algum dinheiro.

Para denunciar a baixaria na tv:

http://www.eticanatv.org.br/

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MELECA NO ATOR

Wagner Moura

O Globo, 29/05/2008

Quando estava saindo da cerimônia de entrega do prêmio APCA, há duas semanas em São Paulo, fui abordado por um rapaz meio abobalhado. Ele disse que me amava, chegou a me dar um beijo no rosto e pediu uma entrevista para seu programa de TV no interior. Mesmo estando com o táxi de porta aberta me esperando, achei que seria rude sair andando e negar a entrevista, que de alguma forma poderia ajudar o cara, sei lá, eu sou da época da gentileza, do muito obrigado e do por favor, acredito no ser humano e ainda sou canceriano e baiano, ou seja, um babaca total. Ele me perguntou uma ou duas bobagens, e eu respondi, quando, de repente, apareceu outro apresentador do programa com a mão melecada de gel, passou na minha cabeça e ficou olhando para a câmera rindo. Foi tão surreal que no começo eu não acreditei, depois fui percebendo que estava fazendo parte de um programa de TV, desses que sacaneiam as pessoas. Na hora eu pensei, como qualquer homem que sofre uma agressão, em enfiar a por rada no garoto, mas imediatamente entendi que era isso mesmo que ele queria, e aí bateu uma profunda tristeza com a condição humana, e tudo que consegui foi suspirar algo tipo "que coisa horrível" (o horror, o horror), virar as costas e entrar no carro. Mesmo assim fui perseguido por eles. Não satisfeito, o rapaz abriu a porta do táxi depois que eu entrei, eu tentei fechar de novo, e ele colocou a perna, uma coisa horrorosa, violenta mesmo. Tive vontade de dizer: cara, cê tá louco, me respeita, eu sou um pai de família! Mas fiquei quieto, tipo assalto, em que reagir é pior.

O táxi foi embora. No caminho, eu pensava no fundo do poço em que chegamos. Meu Deus, será que alguém realmente acha que jogar meleca nos outros é engraçado? Qual será o próximo passo? Tacar cocô nas pessoas? Atingir os incautos com pedaços de pau para o deleite sorridente do telespectador? Compartilho minha indignação porque sei que ela diz respeito a muitos; pessoas públicas ou anônimas, que não compactuam com esse circo de horrores que faz, por exemplo, com que uma emissora de TV passe o dia INTEIRO mostrando imagens da menina Isabella. Estamos nos bestializando, nos idiotizando. O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice. Amigos, a mediocridade é amiga da barbárie! E a coisa tá feia.

Digo isso com a consciência de quem nunca jogou o jogo bobo da celebridade. Não sou celebridade de nada, sou ator. Entendo que apareço na TV das pessoas e gosto quando alguém vem dizer que curte meu trabalho, assim como deve gostar o jornalista, o médico ou o carpinteiro que ouve um elogio. Gosto de ser conhecido pelo que faço, mas não suporto falta de educação. O preço da fama? Não engulo essa. Tive pai e mãe. Tinham pais esses paparazzi que mataram a princesa Diana? É jornalismo isso? Aliás, dá para ter respeito por um sujeito que fica escondido atrás de uma árvore para fotografar uma criança no parquinho? Dois deles perseguiram uma amiga atriz, grávida de oito meses, por dois quarteirões. Ela passou mal, e os caras continuaram fotografando. Perseguir uma grávida? Ah, mas tá reclamando de quê? Não é famoso? Então agüenta! O que que é isso, gente? Du Moscovis e Lázaro (Ramos) também já escreveram sobre o assunto, e eu acho que tem, sim, que haver alguma reação por parte dos  que não estão a fim de alimentar essa palhaçada. Existe, sim, gente inteligente que não dá a mínima para as fofocas das revistas e as baixarias dos programas de TV. Existe, sim, gente que tem outros valores, como meus amigos do MHuD (Movimento Humanos Direitos), que estão preocupados é em combater o trabalho escravo, a prostituição infantil, a violência agrária, os grandes latifúndios, o aquecimento global e a corrupção. Fazer algo de útil com essa vida efêmera, sem nunca abrir mão do bom humor. Há, sim, gente que pensa diferente. E exigimos, no mínimo, não sermos melecados.

No dia seguinte, o rapaz do programa mandou um e-mail para o escritório que me agencia se desculpando por, segundo suas palavras, a "cagada" que havia feito. Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência. E contra a audiência não há argumentos. Será?

Enviado por Nara em 13 de junho de 2008.

Jorge, Em 2002, se não me engano, tive meu primeiro contato com um trabalho seu: "Ilha das Flores", eu devia ter uns 12 anos, fiquei impressionada com tudo aquilo que vi, sempre lembrava, sempre, sempre. Em 2006, com uma perspectiva completamente diferente do mundo, tive novamente o contato ao seu curta e a alguns outros (ótimos também). Aaah a sensação foi a mesma. O impacto que ele exerce sobre nós é algo indescritível. Hoje numa aula de Geografia lembrei do seu curta e fiquei morrendo de vontade de assistir novamente. E é engraçado que a cada vez que eu assisto tenho a sensação de que a realidade expressa no curta, cada vez me impressiona mais. (Acho que é porque conforme a gente vai crescendo vai descobrindo que o mundo não é o conto de fadas que acreditávamos...) E mediante um mundo em que as coisas são tão banalizadas (como vc escreveu no seu post), em que o banal se torna cultura em nosso país, assistir aos seus trabalhos, algumas entrevistas, ler um texto seu, é extremamente gratificante (se assim posso definir). Eu, que trago comigo aspirações de me tornar uma cineasta, espero algum dia chegar perto do que você é. Saber tanto quanto você. (hoje to num momento tipo "mãe quero ser Jorge Furtado, como é que faz?") Espero também algum dia ter a oportunidade de participar de um curso seu, de visitar a Casa do Cinema em POA. Enfim, falei, falei, falei, mas o que quero dizer é simples: Seu trabalho é inspirador. Beijos, Nara.

Enviado por Tobias Ferraz em 07 de junho de 2008.

Caro Jorge, recentemente vi o DVD do Banco do Brasil com o trabalho "7 Diretores" (é esse mesmo o nome?), e vi o seu filme sobre o centro comunitário, making off e tudo o mais, que maravilha. Parace que você é do tipo que enquanto descansa, carrega pedra. Lendo o artigo do Wagner Moura, minha tese vai se confirmando: o que existe é uma série de deformações, em todas as profissões. Tem deputado dizendo que o mandato é dele e que faz disso uma profissão. Tem jornalista dizendo que a reportagem não deve fazer ninguém pensar e que o texto deve ser "leve". São as deformações, fruto da falta de informação, falta de leitura e produto de um mundo formado por gente que só olha para o bico da própria botina. Tanta tecnologia disponível para ampliar a comunicação e mesmo assim o umbigo vai ganhando casa vez mais importância. São as deformações trazidas pelo "universo individual". Mas acredito em gente como você, Wagner Moura, Dércio Marques e tantas outros que fazem da arte, marreta e bigorna para corrigir os desvios. Vem a florada, daí os frutos. Forte abraço.///

Enviado por Maurício Fröhlich em 06 de junho de 2008.

Há muito tempo que não faço isso...postar um comentário, participar e debater..olha só, vou direto ao ponto. A TV é feita para o povo. Faz questão de continuar a deixar as pessoas mais burras, as bibliotecas são um cemitério. Conheço poucas pessoas que ainda leêm um bom livro..nada mudou muito desde Roma onde Gladiadores lutavam pelas próprias vidas na arena, isso era feito para deixar a massa menos preocupada com os problemas da sociedade, hoje, temos ao invés de arenas, estádios de futebol e televisão, danceterias, festas... vivemos na época digital, onde temos acesso a todo tipo de conteúdo tanto na internet como na televisão, os jornais optam por escrever sobre desastres, a cultura ainda tenta adquirir um espaço, tendo muitas vezes que implorar para sair uma notícia do que está acontecendo. Algumas semanas atrás veio um repórter gravar algumas cenas do filme que estou fazendo...o que aconteceu foi que no meio das gravações ele atende o telefone e sai do set, depois explica que teve que ir porque conseguiram uma entrevista com o garoto que confessou ter matado 12 pessoas, menor de idade, e dias depois vi que para fazer a recontituição dos crimes que cometeu ainda exigiu que dessem a ele uma arma de verdade. Piada!
Podemos debater sobre isso, dar nossa opinião, mas que vai ler afinal? nós mesmos. já exibi filmes em teoria que deveria chocar as pessoas e nada acontecia. Somos vítimas da Tv e da sociedade em que vivemos, deixar de gostar de ver o programa do imitador do sílvio santos nos tornam chatos, e o pior é que eles tem consciencia da baixaria, mas continuam assistindo. deixar de assistir futebol é quase que um pecado aqui no brasil. tudo que fizermos contra o que a maioria pensa e fala nos torna o problema. ignorância hoje é uma benção. queria ser mais burro para não pensar nesse tipo de coisa. Entrar no sistema. entende?

assistam o filme IDIOGRACY, é com o ator LUKE WILSON, mostra o futuro da tv e da humanidade, conta a história de um cara burro que no ano de 2000 e alguma coisa vai para o futuro, e quando chega lá, é descobre que é o cara mais inteligente do mundo, tanto que vira presidente. é hilário!

Não importa quantas pessoas inteligentes ainda existam, não importa o que façamos. É cruel a realidade, enquanto que uma pessoa se dá conta de mudar o rumo das coisas, existem dez ou muito mais deixando de querer ter uma opinião própria, desligando a tv para ler, ou fazendo qualquer coisa de útil para ela ou para o mundo. Há humanidade não tem volta. por mais que eu acredite em um futuro melhor..mas isso é fantasia, e não sou mais criança para acreditar em um final feliz..

Enviado por Badger Vicari em 01 de junho de 2008.

Para mim, TV boa é TV desligada. Mas claro, assisto F-1 e JN; e agora esse Casos e Acasos. E futebol.

Enviado por Luiz Murillo em 31 de maio de 2008.

Eu tento, Jorge, mas graças à tal 'globalização'(a de verdade, nada contra a empresa dos Marinho desta vez) e a violência, está cada vez mais difícil.

Enviado por Jorge em 30 de maio de 2008.

Alô Luiz Sugiro que você escolha bem o que ver na tevê ou vá fazer outra coisa: conversar, ler um livro, caminhar na calçada, ouvir música, etc.

Enviado por Luiz Murillo em 30 de maio de 2008.

Eu assisti o quadro e foi realmente de mau gosto, acho que qualquer mamífero com polegares opositores se dá conta disso, e se não perceber pela situação em si, a cara do Wagner Moura demonstraria. Mas eu acho que esse apelo apesar de muito válido tem uma coisa que me faz pensar: 'Ok, vamos ignorar o Pânico, e vamos ver o quê?'. O SBT nos oferece o fabuloso(!) Gugu, que deve morrer fazendo o mesmo programa que eu assistia a 15 anos atrás. Na Record, passam um filme 90% das vezes meia boca, algumas vezes um filme bom. O Faustão ultimamente tem descoberto a tal Dança dos Famosos, ou então a tão baixa Dança no Gelo, onde os artistas fazem algo como o que aconteceu com Wagner, só que espontaneamente, e semana sim semana não um dos candidatos é eliminado com um osso quebrado, quase um 'Celebrity Jackass'. O Fantástico ultimamente se iguala aos programas 'jornalecolísticos' da própria Globo e das demais emissoras, e nos banha com mais Caso Isabella. O cabo é um lixo nos finais de semana, tem que rezar para colocarem um bom filme, o que ultimamente anda dificil, então fica mais fácil desligar a tv de vez. Eu só gostaria de perguntar ao Wagner, se toda essa baixeza que ele repudia, não começou ou pelo menos foi um bom tempo sustentada pelo Sérgio Mallandro, que por sinal ele declarou ser um ídolo dele e participou do curta 'Ópera do Mallandro'?