Diário de Filmagem
por Carlos Gerbase
12/06/99 - Sábado

Sempre detestei trabalhar nos fins de semana. Quando estava no quartel e pegava serviço na escala vermelha (plantão 24 horas aos sábados ou domingos), passava mal nos três dias anteriores (ou pagava o velho e bom Rodrigues pra tirar serviço no meu lugar; que Deus cuide bem do Rodrigues). Quando eu tava no jornal e meu chefe me mandava como repórter para Gravataí, Canoas ou Viamão investigar os "problemas da comunidade" nos fins de semana, não tinha para quem pagar. Isso me afastou um pouco do jornalismo. Já um professor não trabalha sábado nem domingo; isso me aproximou um pouco da vida acadêmica. Mas a vida dá voltas, e passei o sábado trabalhando. Depois dizem que cinema é coisa de vagabundo. Ele, na verdade, está acabando com minha saudável vagabundagem nos fins de semana. Mas talvez agora valha mais a pena do que quando servia à pátria ou ao jornalismo. Talvez.

Hoje passamos para o quarto de Anamaria, em que acontecem coisas boas e ruins para nosso herói Júlio. Filmamos a seqüência do primeiro encontro de Júlio com Anamaria, quando ele leva as fotos tiradas no fim de semana. O começo é bem animado, mas depois chega a Guida (filha de Júlio) com o namorado, e nem tudo corre muito bem. O início foi mole, um travelling à frente em direção à Maria Ribeiro. Mas depois, seguindo nossa decupagem, tínhamos um plano complicadíssimo, com quatro personagens se movimentando e muitos diálogos. Barra pesada.

Preparamos o plano (que dura um minuto, mais ou menos) durante uma três horas e meia. Quando tudo ficou pronto, rodamos a primeira vez. Parecia perfeito, mas aí o Cristiano (assistente de câmara), ao conferir a janela das câmara (o que faz depois de cada plano), descobriu uma pequena felpa no interior da câmara. Por segurança, refilmamos, e só na terceira tentativa é que ficou realmente bom. Os outros planos da cena eram barbada.

Pra terminar, marcamos no cenário como será a briga de Anamaria e Márcia, porque amanhã rodaremos uma seqüência do final do filme (enquanto a tal briga só será feita quando a Maitê voltar a filmar, semana que vem). Feitos os ensaios (muito divertidos por sinal: briga de mulher sempre rende bastante), encerramos o expediente às oito da noite, neste sábado, dia dos namorados, em que trabalhar não foi tão ruim assim. Não tanto.

P.S. Esqueci de dizer que vimos o primeiro copião, à uma da tarde, na sala P.F.Gastal da Usina do Gasômetro. Sempre fico nervoso antes de ver copião, ainda mais num sábado. Ainda mais com umas vinte pessoas da equipe. Mas este foi um belo presente de Dia dos Namorados: imagem limpa, bonita, sem sombra de microfone, foco perfeito. É o que todo mundo gosta de ver num copião.
 
 


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