Diário de Filmagem
por Carlos Gerbase
27/06/99 - Domingo

A idéia era fazer uma externa rápida, de manhã, e depois rodar duas cenas de estúdio (Márcia falando com Júlio na cadeia), mas chovia muito forte e a externa foi cancelada. A solução foi começar pelo estúdio e torcer que o tempo mudasse, o que acabou não acontecendo. Não foi de todo ruim: teríamos quase o dia todo para filmar dois diálogos importantes, de grande carga dramática.

A preparação foi lenta. O Alex só terminou de fazer a luz pelas onze, criando um clima meio trágico, mas sempre realista: uma sala pequena, parcamente mobiliada, onde a única luz vem de uma janela gradeada. Frente a frente, o casal interpretado por Maitê Proença e Roberto Bomtempo tentam reestabelecer contato, depois de um monte de coisas ruins na vida de ambos.

A primeira cena começava com um travelling para trás. Parecia ser um dos planos mais difíceis do dia, mas rolou fácil. A seguir, os closes. E tudo continuava tranqüilo. Eu tinha medo que o Bomtempo, depois de uma semana no Rio de Janeiro, voltasse meio distante do personagem, mas o velho Júlio continuava lá, barba por fazer, amargando alguns dias numa prisão com toda culpa do mundo, menos a que o levou para a cadeia. Já a Maitê estava se divertindo horrores: vinganças sempre são boas de executar. Terminamos a primeira cena à uma da tarde.

Depois do almoço, retomamos os trabalhos para fazer a segunda cena: novo diálogo, que no filme acontece um dia depois. Desta vez, sem travelling. Parecia ser uma moleza. Mas não foi. Primeiro uma chata (navio que carrega grãos) resolveu atracar no cais que fica bem atrás do nosso estúdio. Isso em pleno domingo. Paramos mais de meia hora devido ao barulho do motor. Depois, um plano bem fechado, em que a Maitê se aproximava da câmara, exigia uma mudança de foco muito crítica, obrigando-nos a fazer sete tomadas seguidas.

Quando tudo parecia perfeito, o Cristiano (assistente de câmara) abriu a câmara e verificou que havia uma sujeirinha na janela. Portanto, era preciso refazer justamente o plano complicado. Mais três tentativas, até ficar perfeito. Mas já eram cinco da tarde. A idéia da produção de aproveitar o final da tarde para fazer uma cena entre Maitê e Nelson Diniz (este muito gripado, reflexos do duelo de dois dias atrás) não poderia ser executada. Aproveitamos o tempo para fazer o pré-light da casa de Júlio, nosso principal cenário a partir de agora.

Antes de sair, na sala da produção, marquei todas as cenas já rodadas na nossa planilha de acompanhamento. As quatro folhas ficaram lindamente riscadas, provando que "Tolerância", ao final da quarta semana, já tem bem mais da metade de suas seqüências rodadas. Agora é aproveitar a folga de segunda-feira e torcer para que tudo continue correndo bem nas três semanas que restam.
 
 


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