Diário de Filmagem
por Carlos Gerbase
07/07/99 - Quarta-feira

Tínhamos duas cenas relativamente complicadas para fazer: a volta de Júlio para casa, depois da estada forçada na delegacia, e o final da seqüência em que Márcia expulsa Júlio de casa. A primeira, executada de manhã, foi barbada: apenas três posições de câmara, sem qualquer movimento. O importante era obter dos atores (Maitê e Bomtempo) o ritmo ideal para a ação, em que ambos estão de volta a um ambiente em que foram felizes, mas que agora não pode abrigar nada além de insegurança e ressentimentos.

Ensaiamos a cena inteira algumas vezes e, quando ficou legal, rodamos rapidamente. Sem traumas. Depois do almoço, começaram os problemas. Para mim, a maior dificuldade seria rodar um final de cena (a expulsão de Júlio), movimentada e de grande peso dramático, antes de filmar o início. A razão dessa ordem meio absurda é muito simples: estamos com o cenário que simula o térreo da casa de Júlio pronto, mas o segundo andar (em que começa a briga) estava esperando o desmanche do apartamento de Anamaria para ser montado, usando o mesmo piso e as mesmas tapadeiras para as paredes.

Decidi ensaiar a cena inteira onde ela será filmada, apesar do cenário ainda estar totalmente nu. O Fiapo providenciou uma cama (na verdade, a cama de um terceiro cenário - do "hotel barato" de Teodoro) e conseguimos discutir a progressão emocional da cena. Em meia-hora, os atores (Maitê, Bomtempo e Ana Maria Mainieri) estavam prontos e quentes o suficiente para rodar.

Quando fomos para o cenário (o final da escada, já no térreo), contudo, as coisas se complicaram. Primeiro o Alex teve mais dificuldades do que o habitual para a luz, depois o ensaio do movimento de câmara foi lento. E, finalmente, quando conseguimos rodar, o Juarez Dagoberto (nosso técnico de som) percebeu que o dolly estava fazendo tanto barulho que poderia atrapalhar os diálogos. Tivemos que parar por meia hora para colocar uma prancha de madeira e um cobertor no assoalho que servia de base para os trilhos do travelling sobre o qual o dolly se desloca.

Resolvido o som, rodamos um plano que parecia perfeito. Mas a Maitê foi traída pela emoção e, em vez de dizer "Eu te juro que não volto", disse "Eu juro pra você que não volto". Porto-alegrenses não falam "você". Mais uma tomada: também parecia perfeita. Entretanto, ao revisar no vídeo-assist, percebemos que a tapadeira de pano, no alto da escada, estava se mexendo. Parades não se mexem. Nem as porto-alegrenses. E filmamos de novo, e de novo, e de novo, até que conseguimos a tomada perfeita, sem problemas de som, nem diálogo, nem cenário.

 Olhei para o relógio: sete e meia da noite. Tínhamos começado a trabalhar no plano às duas e meia. Cinema, às vezes, é um trabalhinho bem duro. Em compensação, a última cena do dia foi feita rapidamente e sem dor. Um travelling à frente, em que Márcia está fazendo suas maldades no computador. Terminamos em meia-hora. Então soaram as sirenes do final desse expediente bastante complicado, mas que nos rendeu bom material para o filme.
 
 


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