Diário de Filmagem
por Carlos Gerbase
25/06/99 - Sexta-feira

Chegamos à fazenda em São Lourenço do Sul antes das oito, sob um céu ameaçador. A chuva parecia iminente. Mas já aprendemos a lição: só fazer a interna se a ameaça se confirmar. Depois de meia-hora, a situação era a mesma. E decidimos começar as quatro cenas de tiroteio enquanto o tempo permitisse. Ele permitiu o dia inteiro.

Em "Tolerância", a morte do fazendeiro Orestes (vivido pelo ator Eduardo Fachel) tem quatro versões diferentes: a primeira é contada por Teodoro para Márcia antes do julgamento; a segunda, por Márcia para o júri; a terceira por Juvenal, irmão de Orestes, para Márcia; e a quarta, novamente por Teodoro, mas quase no final do filme, outra vez para Márcia. Caberá ao público decidir qual é a verdadeira. Ou pelo menos a que parece mais verdadeira.

De manhã, filmamos as duas versões de Teodoro. Os efeitos especiais dos tiros sendo dados e recebidos funcionaram bem, desde a primeira tomada, de modo que nosso ritmo de trabalho foi bom. A Maitê e o Werner chegaram de Porto Alegre e compareceram ao set montados em cavalos da própria fazenda.

Em "Tolerância", a única chance para cavalos aparecerem é fora de quadro, de modo que eles (montarias e montadores) foram embora sem seus 15 segundos de fama. Nossos gaúchos andam a pé.

À tarde, filmamos as outras duas versões, mais longas e mais complicadas, que incluíam uma brincadeira interessante: para simular um "travelling" circular, o ator fica sobre um "gira-gira", pequena base circular de madeira que roda sobre si mesma, operada pelo Júnior, nosso maquinista. Eu tinha medo dessa decupagem (idéia da Ana Azevedo) e estava pronto para modificá-la se o efeito ficasse muito evidente. Mas, contrariando minhas expectativas, ficou bem legal. Mil pontos pra Ana.

No final da tarde, correndo um pouco atrás da máquina (isto é, do sol poente) filmamos mais alguns planos bem dramáticos, com a câmara enfiada num buraco e sangue espirrando pra tudo que é lado, inclusive na câmara, para a satisfação do Denison, nosso operador de vídeo-assist, que é especialista em "trash" e "gore-movies". Mas eu também me diverti e tenho a prova: uma das páginas do meu caderno de decupagem, que usei para proteger meu rosto num dos tiros, está com uma bela mancha de sangue artificial.

Já com o sol abaixo da linha do horizonte, corremos para a estrada, tentando fazer uma cena de carro com a Maitê e o Nelson, mas era tarde demais, pelo menos num dia nublado como o de hoje. Ficou para amanhã. O saldo do dia é fantástico: matamos mais uma externa complicada e, aparentemente, está acabado o serviço dos nossos especialistas em efeitos especiais. Estou louco para filmar aquelas belas cenas de diálogo, sentado numa cadeira, em vez de passar frio e ficar gritando contra o vento, enquanto o pessoal fica atirando sem parar. Ainda temos uma morte em "Tolerância", mas esta é sem armas de fogo. Em breve mais detalhes.
 
 


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