Diário de Filmagem
por Carlos Gerbase
22/06/99 - Terça-feira

Início da quarta semana de filmagem. Precisávamos de tempo bom, pois passaríamos o dia na Redenção, o maior parque de Porto Alegre, mais precisamente no mini-zôo, que abriga vários tipos de aves e macacos. Havia uma cerração forte escondendo o céu, mas, aqui no Rio Grande do Sul, isso quase sempre é sinônimo de céu aberto pelas nove da manhã ("Cerração baixa é o sol que racha"). A tradição se confirmou.

Começamos com os planos através das grades das gaiolas, com os macacos em primeiro plano e Juvenal (Werner Schünemann) espreitando Teodoro (Nelson Diniz) à distância. Foi mais fácil do que pensávamos, pois os macaquinhos estavam com fome e era só mostrar comida que eles iam para onde quiséssemos. Depois passamos para os planos de Nelson Diniz entrando no mini-zôo (com a clássica figuração de uma carrocinha de pipocas) e olhando para os macacos, também executados sem problema.

Aí começaram os problemas, que atendem pela nome de efeitos especiais. O primeiro efeito (um revólver disparando) até que não foi muito complicado, mas passamos um bom tempo discutindo a quantidade de fumaça e o brilho causado pela espoleta. Como o plano era em câmara lenta (60 quadros por segundo), tínhamos medo que a imagem ficasse inverossímil. Foram oito tentativas, sendo quatro com a arma disparando no momento correto, até que eu, o Alex e o Fiapo ficamos satisfeitos.

Para o segundo efeito, que era o impacto dos tiros, não tínhamos tantas possibilidades de repetição, porque a camisa do ator fica arrebentada pela pólvora e suja pelo sangue artificial. Foram duas tentativas. Na primeira, que, a olho nu, parecia ter ficado perfeita, o problema foram alguns pedaços de papel (fita crepe), que voaram junto com o sangue. Como o plano também era em câmara lenta, decidimos que somente o primeiro tiro tinha valido. Precisávamos de mais dois.

Na segunda tentativa, o problema foi a fumaça que saiu do corpo do ator, inviabilizando a tomada. Nessa altura, quatro e meia da tarde, a luz já estava muito baixa para continuar filmando, de modo que decidimos parar tudo, dar um tempo para os especialistas em efeitos analisarem o que estava acontecendo e retomarmos o tiroteio no dia seguinte. Às cinco da tarde, eu estava na cama, com febre, atingido pelo mesmo vírus que já detonou quase metade da equipe. Esse aí não nega fogo.
 
 


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