Diário de Filmagem
por Carlos Gerbase
15/06/99 - Terça-feira

Início da terceira semana de filmagem. Saímos de Porto Alegre às seis da manhã, rumo à Gramado, onde ficaremos (de acordo com o cronograma e se o tempo ajudar) até sexta-feira. O sol nasceu pelas sete, revelando um céu azul, quase sem nuvens. Pra começar, tava ótimo. Parada rápida no hotel, que fica bem perto da casa que servirá de locação, para um café-da-manhã reforçado e, antes das nove, já estávamos preparando a primeira cena.

A idéia era esperar o sol ficar mais forte para rodar a externa, e, nesse meio tempo, fazer uma cena interna, de apenas um plano, aparentemente simples. Simples até o Alex (diretor de fotografia) e o Luís Abrahmo (câmara) bolarem um movimento com o uso do dolly. Ficamos uma hora e meia tentando, até que deu certo. Nessas horas, eu sempre fico tentado a colocar a câmara no tripé e simplificar, para não prejudicar as cenas seguintes do dia. Mas, no limite da minha tolerância, deu certo. A tolerância com os planos complicados é a chave para um filme mais bacana. Pelo menos espero que seja.

Aí fomos para o jardim da casa, que tem vários aparelhos rústicos para fazer ginástica, exatamente o que previa o roteiro. Sob as ordens da filha Guida e de Anamaria, Júlio faz diversos exercícios, até literalmente pedir água. Quando a água vem, numa mangueira, a palhaçada se instala e todo mundo se molha. Ao contrário da cachoeira, em que todo mundo sofreu pelo menos um pouco, aqui a coisa foi mais tranqüila. Tínhamos sol e uma temperatura razoável. Como é uma cena sem diálogos, com música rolando no fundo, era preciso fazer uma boa quantidade de planos ainda antes do almoço. Fizemos uns 15 (quase todos com a câmara no tripé), com o Bomtempo se esforçando para mostrar que está em forma.

Depois, na hora da palhaçada com água, a câmara foi parar no ombro de Abrahmo, devidamente protegida por um saco plástico. Com liberdade de movimentação, Abrahmo mostrou que até em 35mm (e numa Arri 535B, que é pesada pra burro) é possível filmar como se fosse super-8, com direito a respingos no filtro e câmara correndo atrás da ação. Foi divertido. E fomos almoçar às três e meia da tarde. Acontece. Foi culpa daquela interna demorada.

Comemos rápido, porque o tempo já estava piorando, e tínhamos ainda um plano na estrada. Com equipe reduzida, fomos até o local escolhido, uma curva na estrada Gramado-Taquara. A câmara foi colocada num super-grip (apoio especial para fixar o equipamento sobre o capô de um carro). Esta técnica de filmagem chama-se "camera-car" (ou algo assim): o carro da cena fica sobre um reboque e é puxado por outro carro. Assim, o ator-motorista precisa apenas fazer de conta que está dirigindo, e o fotógrafo pode ficar pendurado do lado de fora, controlando a câmara.

Depois de uma breve discussão sobre a pouca luz ambiente (eram quase cinco da tarde, e as nuvens cobriam todo o céu) decidimos filmar assim mesmo. Na verdade, o clima do plano é pra ser meio sombrio mesmo, meio fim de festa. E acho que ficou bem legal, começando com uma panorâmica na paisagem e vindo para o pára-brisa, onde os três personagens viajam calados. A bateria do "video-assist" (não sei se a grafia é esta), acabou no meio da brincadeira, de modo que só teremos certeza sobre o plano quando ele voltar do laboratório. Não gosto de filmar em estrada, e jamais faria um "road-movie". Espero que tenha ficado bom. E acabou por hoje. Sempre há um tempo para comer, beber e pensar em coisas mais importantes que cinema.
 
 


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